Na verdade, o ‘orgulhosamente sós’, os nacionalismos e os egoísmos nacionais estão cada vez mais presentes e são fonte de problemas, ódio e tensão. A governação estável dos Estados-Membros e da União Europeia está em causa. Regressam os partidos populistas, normalmente associados a um ‘homem só’.
Mas o maior problema, a maior ameaça à Paz que vivemos neste momento, chama-se Rússia. Não é por acaso que a Rússia tem financiado e apoiado quer a extrema-direita quer a extrema-esquerda. É que a Rússia, para satisfazer o seu saudoso apetite imperialista, precisa de uma União Europeia frágil, fragmentada.
Putin não suporta a ideia da Ucrânia estreitar relações com a UE e não aceita que esta pretenda aderir à UE e construir um desenvolvimento económico e um bem-estar social completamente inaceitáveis para uma Rússia que pouco evoluiu nessas áreas, desde os tempos da União Soviética.
Hoje, a União Europeia represente tudo o que Putin receia.
Apesar do crescimento dos extremismos, continuamos a ter democracias estáveis, respeito pelos direitos humanos, economias de mercado, progresso social, liberdade de expressão, respeito pelas minorias, tolerância religiosa, solidariedade entre estados.
A Rússia de Putin pretende alimentar a oligarquia que se perpetua no poder e que não está disposta a abdicar, dele seja de que forma for.
Para “maus” exemplos, na óptica russa, já bastam a Polónia, os Estados Bálticos e a Roménia, que já aderiram ao projecto europeu, libertando-se dos preconceitos ideológicos e dos constrangimentos políticos que a presença no “falecido” pacto de Varsóvia significava.
Por isso, para Putin e para a sua oligarquia, a Ucrânia é a ultima fronteira! Aquela para lá da qual nunca a UE se poderá estender trazendo até debaixo dos olhos do povo russo um modo de vida, em liberdade e desenvolvimento, que será absolutamente devastador para os actuais senhores do Kremlin, face às suas fracassadas políticas económicas e sociais.
Note-se que o início do conflito na Ucrânia coincidiu com o acordo económico e comercial entre Bruxelas e Kiev, naquilo que foi um forte sinal do incómodo de Moscovo com a aproximação entre UE e Ucrânia.
A UE tem de se manter unida, falar a uma só voz com Moscovo e continuar a ter paciência e bom senso. A UE reagiu com firmeza nas sanções que aplicou. Todos perceberam as provocações com a intervenção na Ucrânia, a simpatia e o apoio ao Syriza e à Frente Nacional de Marine Le Pen. A chantagem e as fortes pressões económicas que a Rússia faz sobre vários Estados-Membros tendo como arma o gaz natural vão continuar. Moscovo procura a fragilização política e económica da União Europeia para procurar atingir os seus objectivos.
Não podemos ceder nos nossos valores, na democracia e na liberdade.
Os ataques terroristas, a falta de humanidade, a barbaridade do auto-proclamado Estado Islâmico, as mortes de crianças que são enterradas vivas, cristãos queimados e crucificados não estão a ter a resposta certa e merecida. Pensamos que é longe, não é na UE, logo não é connosco! É connosco! São crimes contra a humanidade! Para além disso, se nada fizermos, também a nós nos vão atingir. Aliás, os ataques terroristas que temos sofrido são a prova. E, afinal, somos ou não somos solidários?
Termino com mais um problema: a situação da Grécia. Como previsto, o Syriza aceitou o “choque da realidade” e o Eurogrupo chegou a acordo para o prolongamento do programa de apoio à Grécia por mais quatro meses, impondo condições à Grécia. O acordo acaba por ser bom para a Grécia e para a UE. Mas os problemas e a instabilidade na coligação do governo grego, onde a extrema-esquerda e a extrema direita estão aliados, é mais do que previsível. O Syriza, tal como o socialista Hollande, já começou a fazer tudo ao contrário do que prometeu. A linguagem criativa, colorida e florida não vão ser suficientes para manter a estabilidade. A solidariedade da União Europeia com a Grécia tem de continuar, mas a responsabilidade do governo grego também terá de existir.