Artigo de Opinião

Os extremos, a classe média e as saudades de Angela Merkel

A extrema direita e a extrema esquerda aliaram-se e foram para a rua nos violentos protestos que ocorreram recentemente em França, aproveitando-se de um movimento social espontâneo. Esta “aliança” de polos extremistas não me surpreende. No Parlamento Europeu, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e a extrema direita de Marine Le Pen votam no mesmo sentido em mais de 90% dos assuntos!

Os extremos são contra a União Europeia e contra a moeda “euro”, são populistas e nacionalistas, defendem o “orgulhosamente sós”. Até nas causas opostas que defendem, os extremos alimentam-se mutuamente!

O crescimento dos extremos enfraquece a União Europeia e favorece Rússia, China e Estados Unidos.

O Mundo está a resvalar e a cair num perigoso caminho que se dirige para o autoritarismo. Mais do que nunca, a UE precisa de estar unida e liderar a defesa dos valores, da democracia, e da defesa intransigente da liberdade e da promoção da dignidade humana.

Não temos a perceção das vantagens da UE. Não sabemos que a UE é a maior economia do planeta e que acedemos a 50% das despesas sociais do planeta, ainda que sejamos menos de 7% da população mundial. Não temos consciência que temos os maiores índices de igualdade.

Mas isto não significa que tudo esteja bem! Os “moderados” estão a perder terreno e têm de dar respostas para desafios como natalidade, emprego jovem, migrações, alterações climáticas e globalização. A resposta será eficaz se existir uma ação conjunta, partilhada e solidária.

Na UE, a denominada classe média está a ser asfixiada. Os governos não têm coragem para tomar as medidas que modernizem a economia, melhorem a nossa produtividade e competitividade. Os governos fazem o mais fácil para aumentarem as receitas: aumentam os impostos. As famílias e as pequenas e médias empresas já estão no limite! O voto nos extremos é um sinal de desespero, tal como acontece com as manifestações de Paris, num movimento social espontâneo de protesto contra a taxação de combustíveis e que mobilizou simultaneamente jovens e moradores das periferias urbanas sem acesso a habitação condigna e revoltados com a especulação imobiliária nas grandes cidades.

É evidente que há quem se aproveite de movimentos que se pretendiam pacíficos para semear o caos e a violência.

As receitas dos orçamentos nacionais podem aumentar, sem que os contribuintes sejam penalizados. Note-se que, na UE, todos os anos se perdem mais de um bilião de euros em fraude, evasão e elisão fiscal! Este montante astronómico equivale ao atual Quadro Financeiro Plurianual 2014/2020, ou seja, a sete orçamentos da UE! Há que avançar para a troca automática de informações fiscais, há que – no mínimo – harmonizar definições. Cada Estado-Membro não pode ter uma definição diferente de “Paraíso Fiscal”, nem uma lista negra diferente de paraísos fiscais. Este é mais um exemplo onde a partilha de soberania acaba por reforçar a soberania nacional.

É necessário que o resultado das próximas eleições para o Parlamento Europeu, que ocorrem no dia 26 de maio, permita uma maioria dos moderados. Não podemos adicionar mais imprevisibilidade aos momentos que vivemos. O Brexit será mais um desafio a vencer.

A anunciada saída de Angela Merkel não é uma boa notícia. Macron não tem força para suprir esta saída. Angela Merkel é a única líder – digna desse nome – na União Europeia. Já sinto a sua saída. O ministro das finanças da Alemanha, o socialista Olaf Scholz tem sido intransigente nas negociações, em que participo, para o orçamento da UE de 2019. Também sinto a saída de Angela Merkel na negociação dos próximos fundos.

Angela Merkel é uma europeísta que perdeu força e isso é mau para a UE e para Portugal. Vamos ter saudades de Angela Merkel.

Gosto

• O número de nascimentos está a aumentar no distrito de Braga. Segundo dados do Instituto Nacional Ricardo Jorge, até final de outubro Braga foi dos distritos que registou maior aumento de bebés no país em termos brutos, só sendo superado por Lisboa. Este ano já nasceram 5.563 crianças no distrito. É um indicador positivo e que reforça a esperança no futuro, apesar de em Portugal estarmos ainda abaixo dos valores necessários para garantir a renovação de gerações.

• Os portugueses demonstram mais uma vez forte solidariedade, aderindo no passado fim-de-semana em força à campanha do Banco Alimentar contra a Fome. Foram recolhidas mais de 2.100 toneladas de alimentos, batendo novo recorde. Os alimentos vão ser entregues a 2.600 instituições de solidariedade social e destinam-se suprir carências a cerca de 400 mil pessoas.

Não-Gosto

• A violência nas manifestações em França atingiu proporções sem precedentes, deturpando as motivações do protesto social. Mais de uma centena de pessoas ficaram feridas – incluindo dezenas de polícias – e mais de 400 manifestantes foram detidos. A conhecida “manifestação dos coletes amarelos” mobilizou diferentes sectores da sociedade civil, originando a crise política mais grave do atual presidente francês, desde que foi eleito.

• O Orçamento de Estado para 2019 está aprovado pela maioria de esquerda, consolidando a estratégia ilusionista do governo socialista. Para a propaganda eleitoralista da recuperação de rendimentos, agrava despesas correntes e aplica aos portugueses a maior carga fiscal de sempre. O défice reduz-se, não pela diminuição sustentada de despesa estrutural, mas sim com mais cativações, mais endividamento, eliminação do investimento público e abandono do serviço público, sobretudo na saúde, educação, segurança e proteção civil, infraestruturas e transportes públicos.