Artigo de Opinião

O Mundo precisa dos moderados

O ódio, o radicalismo, o maniqueísmo e o protecionismo crescem e alastram à escala global. Não são de esquerda nem de direita, mas são da extrema esquerda e da extrema direita. Um ditador é um ditador, quer seja de esquerda ou de direita. No entanto, há uma predisposição de algumas “elites” e dos meios de comunicação social para branquear a ação da extrema esquerda. Estou certo que, se o ditador Maduro tivesse sido convidado para falar no evento “Web Summit”, a extrema esquerda acharia bem! Mais: se tivesse sido vetado e impedido de falar, isso teria sido uma atitude fascista, contra a liberdade de expressão. Maduro não é mais democrata que a Marine Le Pen! Mas Marine Le Pen foi desconvidada para falar na “Web Summit” depois da pressão dos arautos da liberdade.

No Parlamento Europeu assisto, já habituado e sem nenhuma admiração, a que a esquerda radical (leia-se PCP e Bloco de Esquerda) vote com a extrema direita em mais de 90% dos votos. Tal não acontece só nas questões económicas e orçamentais. Recentemente, o PCP votou no Parlamento Europeu ao lado da extrema direita, não acompanhando a crítica à deriva populista e nacionalista que coloca em causa o Estado Direito e a liberdade de expressão na Hungria.

Apesar de ser líder mundial na defesa da democracia e da liberdade, na União Europeia há derivas e ataques a valores que é preciso combater.

Ao longo do último ano, foram já assassinados em países da UE três jornalistas envolvidos na investigação e denúncia de casos de corrupção e desvio de dinheiros públicos com envolvimento de políticos e líderes de governo: Bulgária, Eslováquia e Malta. A situação é igualmente problemática na Roménia, onde o governo socialista quis suavizar leis penais anti-corrupção e reforçar o controlo sobre o sistema judicial. Se fossem todos governos de direita, o que se estaria a dizer? Nestes casos, porque é que a esquerda, silencia-se?

Em geral, há enorme tolerância e complacência em relação à esquerda. Se José Sócrates e António Costa fossem do PSD, a esquerda consideraria que nunca António Costa poderia estar a primeiro-ministro, até porque, para além de não ter ganho as eleições, fez parte do Governo de José Sócrates.

Nós, os moderados, temos de, pelo menos, estar a caminho da santidade e muito próximos da beatificação.

Se perguntarmos a um francês quem é protecionista, defende a saída do país da Zona Euro e se intitula como o verdadeiro e único defensor dos direitos dos trabalhadores, a resposta será: Marine Le Pen. Se fizermos a mesma pergunta em Portugal, haverá hesitação entre Jerónimo de Sousa e Catarina Martins.

Em muitos casos são os radicais de um lado que “puxam” pelos radicais do extremo oposto. Repare-se na imigração: quando uns dizem “portas totalmente abertas” ou outros dizem “não entra ninguém”. Ambos crescem radicalizando-se e alimentando-se mutuamente.

Os extremos de esquerda e de direita colocam todas as culpas no “outro”, num inimigo externo e, concretamente, na UE que pretendem destruir. Algo que, muitas vezes, é acompanhado pelos líderes moderados, quando se sentem acossados e procuram passar a culpa para Bruxelas. O que é bom é nacional, o que é mau é europeu!

Até o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, veio insinuar, em entrevista à televisão, que até gostava de baixar o IVA da eletricidade, mas a UE não deixa! Acontece que o IVA da eletricidade no Reino Unido e em Malta é de 5%, no Luxemburgo 8% e na Itália 10%. Para além disso, se António Costa quisesse baixar o IVA, pediria à Comissão Europeia e esta teria três meses para se pronunciar. Acontece que António Costa não pediu!!!! A situação não é nova e acontece cada vez que aprova um orçamento com a mensagem de que até queriam dar mais aos trabalhadores e à função pública, baixar impostos… mas depois de uma longa e “árdua” discussão com as instituições europeias, não conseguiram mais. Dizem que é a “Europa” que não deixa e, assim, pode ser usada como mais um falso inimigo externo que vai servindo até os moderados!

Os extremos ora crescem à direita, ora à esquerda. No Brasil, temos a extrema direita a crescer e o risco enorme de Bolsonaro vir a ser o próximo presidente. Uma personagem xenófoba, que ataca as minorias – o que, diga-se em abono da verdade, não costuma acontecer na extrema esquerda – e sem demonstrar perfil e competência para o cargo. Para a extrema esquerda, a culpa é sempre dos outros. Não sei como é que podem culpar mais de 49 milhões de brasileiros! Será que viraram todos fascistas? Vão culpar as redes sociais?

Que fique claro: nunca votaria num candidato da extrema direita ou da extrema esquerda.

À escala global, os extremos vão crescendo e vão-se alimentando, colocando as democracias em perigo. O mundo está cada vez mais perigoso e a precisar dos moderados… competentes e capazes de assumir responsabilidades.

Gosto

• Com uma enorme diversidade de atividades e enchentes de pessoas vindas de diferentes pontos do país e do estrangeiro, o sucesso da Festa das Colheitas de Vila Verde veio comprovar que a identidade de um território e o que é genuíno são uma mais valia insubstituível para alicerçar o desenvolvimento sustentado e inclusivo. A XXVII Feira Mostra de Produtos Locais de Vila Verde é o ponto alto do programa vasto que envolve as freguesias do concelho Na Rota das Colheitas, com um forte impacto para a economia local. As tradições e os valores do mundo rural são aposta estratégica de diferenciação no mundo atual.

• O presidente da República entregou esta semana a Ordem de Mérito na Instrução Pública ao Seminário de Nossa Senhora da Conceição de Braga, também chamado de Seminário Menor da Arquidiocese. Uma instituição com mais 90 anos, por onde passaram mais de 8 mil jovens. A distinção realça o reconhecimento do trabalho da Igreja Católica na educação e formação humana.

Não-Gosto

• Portugal corre o risco de não cumprir a meta estabelecida para a reciclagem de 50% dos resíduos domésticos, até 2020. Nem mesmo usando números empolados. Segundo o Eurostat, Portugal está apenas nos 31%. O governo diz que está nos 38%, preferindo contabilizar a quantidade de lixo recolhida para reciclagem, e não o que realmente é reciclado, como exige a Comissão Europeia.

• O governo voltou a falhar, de forma grave, ao nível das obrigações e dos compromissos para a prevenção dos incêndios. Peritos da União Europeia tinham avisado em maio sobre os riscos elevados no Parque Natural Sintra-Cascais e dado sugestões de ações preventivas. Agora, agradecemos à “direção do vento” por o fogo do fim-de-semana “apenas” ter provocado 21 feridos ligeiros! Afinal, o governo não aprendeu nada!