A perseguição aos Cristãos começou com o próprio Jesus Cristo, continuou com os seus apóstolos, muitos dos quais perseguidos e mortos enquanto pregavam, e continuou com os seus fiéis que durante séculos tiveram de se ocultar, dissimular e fugir para não serem mortos.
Muitos deles, nomeadamente na Roma dos imperadores, acabaram os seus dias de forma violenta, com extremos de crueldade, para gáudios das multidões que acorriam ao Coliseu e a outros espaços para se divertirem com o sofrimento e morte dos seguidores de Cristo.
Passaram dois mil anos desde esses tempos. Mas a perseguição aos Cristãos, em vários pontos do globo, continua e contra eles continuam a ser usadas formas de tortura e morte que os antigos imperadores romanos não desdenhariam.
Em 2015, a perseguição aos Cristãos aumentou em quatro continentes.
Recordo a frase: “Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós” – S. João, Cap 15, Vers 20 -, do Evangelho segundo S. João.
Assistimos impávidos a este ataque.
Onde está a defesa dos valores ocidentais?
Esta defesa não se circunscreve apenas aos Cristãos ou aos crentes.
Diz respeito a todos os que defendem a liberdade de pensamento, expressão e religião e a todos que são perseguidos e mortos por causa das suas opções de fé.
É de liberdade, direitos fundamentais, que estamos a falar.
São crimes contra a humanidade.
A perseguição feita aos Cristãos é, contudo, aquela que mais expressão e maior gravidade atinge a nível mundial, ao ponto de se calcular que cerca de 80% dos actos de perseguição religiosa são perpetrados contra Cristãos.
Com especial enfoque no Médio Oriente e em algumas regiões de África, mas também em alguns países do Extremo Oriente e na região do Pacífico, estima-se hoje que são cerca de 60 os países em que mais de 200 milhões de Cristãos enfrentam restrições à prática da religião, sofrem discriminações de vária ordem e são perseguidos pelo facto de professarem a sua fé.
Os casos em que isso se verifica com especial gravidade são o Sudão, Sudão do Sul, Somália, Eritreia, Síria, Irão, Iraque, Paquistão, Afeganistão, Coreia do Norte, Nigéria, Egipto, Líbia, Arábia Saudita, China, índia e Quénia, entre outros, em que os actos de perseguição são menos notórios ou acentuados.
As perseguições têm vindo a aumentar com o recrudescimento do fundamentalismo islâmico, sendo particularmente notada a sanha persecutória com que o Daesh persegue os Cristãos nos territórios que vem ocupando.
Há um forte silêncio que significa indiferença e, em última instância, uma desvalorização dos ataques, mortes e perseguição dos Cristãos.
Os números e as estatísticas deveriam chocar, obrigar a agir, no mínimo impressionar.
Em cada um destes números esconde-se um homem, uma mulher, um jovem, uma criança. Deveria ser normal condenar, combater todo o ataque e violação da dignidade humana.
Há a perseguição violenta, a mais visível, mas há também a perseguição subtil e discreta feita de rejeição, discriminação, negação de direitos, ostracização.
Tudo começa por pequenas atitudes hostis, passando para difamação, discriminação e até agressões verbais e físicas. Em muitos casos, a perseguição, a prisão e a morte são caucionadas pelo próprio Estado.
As perseguições aos Cristãos constituem uma violação evidente da declaração universal dos direitos humanos, nomeadamente dos Art 18, 19 e 20.
Estou entre aqueles que consideram que não precisávamos de normas escritas para defender a liberdade e a dignidade humana. Mas as normas são importantes, desde que se lhe dê efectividade.
Em 2015 foram mortos mais de 7.100 Cristãos. Um número que está aquém da realidade, porque há países dos quais não é possível recolher informação fidedigna, como é exemplo a Coreia do Norte. Noutros países, a morte de Cristãos não é considerada informação merecedora de relevo!
Também em 2015, mais de 2.406 Igrejas foram atacadas e danificadas, só na China foram mais de 1.500, sendo fácil de constatar que são dos primeiros alvos atacados por aqueles que querem impedir a livre profissão de fé dos cidadãos. Uma Igreja destruída e não reconstruída é um testemunho de fragilidade dos Cristãos e de impunidade dos que perseguem. Em muitos casos, os Cristãos abandonam o território como forma única de salvarem a vida, sendo uma das muitas provas disso a fuga de 8.000 Cristãos na Indonésia, em Outubro de 2015, na província de Aceh.
Estima-se que cerca de 75% da população mundial viva com sérias restrições à liberdade religiosa, à prática da sua fé e à livre assunção dos seus credos, fruto da intolerância e do fanatismo de governos que fazem da religião, seja ela qual for, um inimigo de Estado. É evidente que não são só os Cristãos que são perseguidos.
É contra isto que temos todos de nos levantar.
Com o desassombro de assumirmos o direito à fé, seja ela qual for, com a coragem de exigirmos às autoridades dos Estados, onde se registam níveis elevados de ataques contra confissões religiosas, que assumam a responsabilidade de assegurar que todos possam exercer as suas práticas religiosas de forma normal e em público, e a garantirem a segurança pessoal e a integridade física dos membros das comunidades religiosas nesses países.
A questão religiosa, e nomeadamente a defesa dos direitos dos Cristãos à prática da sua fé, é uma questão que tem a ver com a Liberdade e a defesa dos direitos humanos. É um combate do qual ninguém está dispensado!
Sendo factual a perseguição aos Cristãos, não consigo compreender a dificuldades que alguns têm na condenação e no combate às perseguições aos Cristãos. Há mesmo quem recuse colocar ou escrever a palavra Cristão num título de uma resolução ou no seu texto! E eu insisto numa evidência: todo o ser humano tem direito à liberdade, logo, o Cristão também tem direito à liberdade.