A 6 de Maio De 2012, o socialista François Hollande vencia as eleições presidenciais em França impedindo Sarkozy de conseguir a renovação do seu mandato e abrindo um novo ciclo politico no país.
O seu programa eleitoral, essencialmente virado para a economia, tinha como medidas de fundo mais relevantes:
• Renegociação do tratado orçamental como forma de encontrar políticas alternativas à austeridade;
• Luta contra a precaridade laboral dos jovens;
• Taxas especiais para as grandes fortunas;
• Promoção do crescimento económico e das políticas conducentes a criar emprego.
A redução da idade da reforma e o aumento do número de funcionários públicos constavam das promessas.
Foi com estas propostas, adicionadas a alguns escândalos em torno de Sarkozy, que François Hollande venceu as eleições criando uma onda de euforia em vários partidos socialistas europeus, e entre eles o PS português.
Os socialistas portugueses, logo na noite da vitória, não resistiram a vir a público saudar o triunfo dos seus camaradas franceses e considerar que se deu um «renascer da esperança no projecto europeu», com a vitória de François Hollande na segunda volta das presidenciais francesas. Sublinhavam ainda que, «pela primeira vez», tinha sido votado um «conjunto de propostas que apostavam no crescimento e na criação de emprego», um projecto que «foi a votos de forma vencedora», após anos de «austeridade excessiva» proposta pela «Direita europeia».
Como se sabe, o entusiasmo do PS depressa desapareceu porque, uma vez eleito e confrontado com a realidade, o presidente francês fez exactamente o contrário do que tinha prometido e implementou duras medidas de austeridade, o que hoje transforma a hipótese de ser reeleito numa perspectiva de dificílima concretização. Hoje, o PS de António Costa foge de Hollande.
A 25 de Janeiro, uma coligação de 12 partidos gregos, conhecida como Syriza, venceu as eleições com um programa radical de ruptura com consensos europeus, de que recordo as principais propostas:
• Reestruturar grande parte da dívida pública, de forma a que se torne sustentável, no contexto de uma “Conferência sobre a Dívida Europeia”;
• Incluir uma “cláusula de crescimento” para o pagamento da parte remanescente da dívida grega, para garantir que será financiada com crescimento e “não com o orçamento”;
• Incluir uma moratória para o serviço da dívida, para poupar fundos para estimular o crescimento;
• Excluir os investimentos públicos das restrições do Pacto de Estabilidade e Crescimento da UE (as novas regras interpretativas só o permitem para países que respeitem défice de 3% do PIB);
Logo no dia seguinte ao triunfo eleitoral dos radicais gregos, o líder socialista António Costa declarava pomposamente que “a vitória do Syriza dá força a Portugal para seguir na mesma linha”.
Nem mais nem menos!
No que viria a ser prontamente corroborado por outros dirigentes socialistas, considerando a vitória do Syriza como “esperança na mudança da política europeia” ou “é bom haver mais um Governo anti-austeridade”.
No confronto com a realidade, o Syriza deixou cair as principais promessas eleitorais. O gover no do Syriza, em poucos meses, desbaratou os progressos que se tinham realizado. Não sabe como explicar ao eleitorado que, afinal, vai ter de fazer o contrário do que prometeu. Espero que invertam o caminho que ameaça levar a Grécia ao precipício. O fracasso das propostas do Syriza é tão evidente que levaram inclusive ao rápido afastamento da sua ‘estrela’ maior: o ministro das finanças Yanis Varoufakis.
Hoje, António Costa, que se tinha colado ao Syriza, procura fazer esquecer os extemporâneos entusiasmos pela vitória dos radicais gregos, ao ponto de na actualidade não se referir, ainda que de passagem, ao Syriza, a Tsirpas e às suas propostas eleitorais.
Na Grécia, como na França, o PS português entusiasmou-se com a facilidade e a ilusão.
Na União Europeia, há uma certa esquerda, onde se inclui o socialismo de António Costa, que considera que os problemas são cíclicos e, por isso, não são necessárias reformas estruturais. Tudo se resolve aumentando a procura interna, o consumo. No fundo, negam a realidade e, por isso, nunca a conseguem alterar no sentido positivo.
É com uma atitude deste tipo que os socialistas de António Costa, embora avisando que o programa definitivo apenas será conhecido a 6 de Junho, já apresentam um conjunto de propostas que se caracterizam por, em matérias essenciais, convergirem com as propostas da maioria PSD/CDS, como é o caso, a título de exemplo, de:
• Baixa da TSU;
• Reposição de salários;
• Eliminação da sobretaxa de IRS.
Tanto o PS como o PSD e o CDS/PP concordam que vamos ter crescimento económico e que é possível devolver o que foi retirado aos portugueses na altura da emergência económica por que passámos. Tal significa que o actual governo cumpriu e deixa uma boa herança.
Claro que a grande diferença entre o PS e o Governo é que o PS promete o mesmo, mas em menos tempo! É claro que é promessa falsa e enganadora.
É o problema de vício que fica mais evidente na inconsistência de outras medidas propostas pelo PS, nomeadamente na sustentabilidade das pensões e respectivos beneficiários ou no limite de despesa por programa orçamental, que já levaram o PSD a desafiar o PS a submeter as suas propostas ao escrutínio da UTAO (Unidade Técnica Apoio Orçamental do Parlamento) e ao próprio conselho de finanças públicas.
E assim se caminha para as eleições legislativas que vão opor as duas únicas forças políticas susceptíveis de governar em Portugal.
De um lado, o governo que cumpriu aquilo a que se comprometeu, executou o seu programa e vem recuperando Portugal da crise em que o anterior governo socialista o tinha mergulhado com políticas idênticas àquelas que António Costa continua a defender.
Do outro lado, o PS que começou a louvar Hollande, continuou a apontar o Syriza como um exemplo a seguir e terminou com um conjunto de propostas que ora se confundem com as do governo ora apontam para a inexequibilidade, dentro do velho princípio socialista de que basta aumentar salários, pensões e subsídios para se proporcionar o aumento da procura interna e, portanto, do próprio crescimento e emprego.
Sabemos o que é que deu andar a gastar o que não se tinha, nem produzia, como isso acabou em 2011 e o que ainda hoje sofremos.
Não podemos repetir o erro!