A globalização, a interdependência das economias e a sua desmaterialização ainda não foram compreendidas. Convém que aqueles que defendem a liberdade, a democracia, o Estado de direito, a tolerância e a defesa intransigente da dignidade humana se juntem e atuem de forma coordenada. Só unidos, em conjunto e de forma solidária, poderemos controlar a globalização. Só dessa forma puxamos pelos direitos sociais e venceremos os desafios comuns.
Todas as eleições são importantes e têm repercussões fora dos limites geográficos a que estão adstritos os eleitores. É evidente que, numa potência militar e económica como os Estados Unidos, a eleição do seu Presidente tem uma influência ainda mais global. Os americanos quiseram a “América Primeiro”, o “orgulhosamente americano”. Votaram no radicalismo e no proteccionismo, acompanhados do nacionalismo, do egoísmo e, em certa medida, do ódio, numa ideia de supremacia.
Na semana passada, Donald Trump anunciou que os EUA se retiravam do acordo de Paris.
O acordo de Paris foi um compromisso histórico, assinado em 2015 por 195 países, ao fim de vários anos de negociações. É um acordo juridicamente vinculativo! Mas Trump acaba de colocar em crise o respeito da legalidade por parte dos EUA!
Este acordo promove uma ação abrangente e coletiva a nível mundial, com o objetivo de conter o aquecimento global do planeta, ao reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Com este acordo, os países comprometem-se a manter o aumento da temperatura média global abaixo dos 2ºC, mantendo os esforços para que este aumento se restrinja aos 1,5ºC. Devemos evoluir para uma economia que não tenha impacto no clima e que seja resiliente às alterações climáticas.
O compromisso que tinha sido assumido pelo executivo de Barack Obama comprometia os Estados Unidos a reduzirem a emissão de gases de efeito de estufa entre 26% a 28% até 2025, relativamente aos valores de 2005. Os EUA e a China são dos maiores poluidores mundiais, pelo que deixar de ter um destes países a bordo deste acordo compromete o esforço que vai ser feito pelos restantes países.
Trump voltou atrás com o compromisso que os EUA tinham subscrito e negociado para se combater e mitigar as alterações climáticas. Provou que não é fiável. Demonstrou que governa para o imediato e que não se preocupa com as gerações futuras. O “quero, posso e mando” é uma atitude típica de ditadores e que ele abraça. Faz tábua rasa das evidências e conclusões científicas, ao afirmar que não acredita no aquecimento global. A pouca credibilidade que tinha esfumou-se. Qual é o líder mundial que confiará agora em Donald Trump?
A UE tem de perceber que não pode contar com os EUA e terá de se organizar para reforçar a sua defesa e liderar a resolução dos desafios globais. Trump, ao rasgar o acordo de Paris, reforça a posição da China que ele tanto queria contrariar. A China, com o ar irrespirável em várias cidades e a pensar na indústria das renováveis, tem interesse na diminuição das emissões de carbono.
Trump uniu o mundo na defesa do acordo de Paris. Por outro lado, dividiu ainda mais os norte-americanos, onde já vários Estados, como Nova Iorque, Washington ou Califórnia, várias cidades e empresas afirmaram que vão respeitar e concretizar as metas definidas no acordo de Paris.
Enganam-se aqueles que pensam que a UE vai andar de braço dado com a China. A UE não pode permitir o dumping social e tem de exigir reciprocidade e uma concorrência justa e leal.
Trump, Putin e o Brexit obrigam os 27 Estados-Membros da UE a unirem-se e a tomarem o destino nas suas mãos. A Chanceler Angela Merkel foi a primeira a compreender e a afirmar esta urgência. Espero que Macron e todos os restantes líderes estejam à altura. Mas, infelizmente, não estou certo que tal aconteça!
Gosto
• O desporto está em grande em Braga, com o ABC a vencer a Taça de Portugal em Andebol e a equipa de futebol de praia do SC Braga a conquistar a Taça Europeia de Clubes. As guerreiras do Minho lutaram com grande garra na final da Taça de Portugal de feminino, demonstraram grande qualidade.
• No sábado passado, tivemos o prazer de assistir a mais uma exibição de excelência do melhor jogador do mundo, o nosso Cristiano Ronaldo, que ganha assim a sua quarta Liga dos Campeões, a terceira em quatro anos. Enquanto esperamos pela quinta Bola de Ouro, podemos continuar a apreciar o melhor atleta português de todos os tempos!
Não-Gosto
• O Secretário de Estado Rocha Andrade veio ao Parlamento Europeu contrariar aquilo que tinha sido dito pelo Ministro das Finanças Mário Centeno na Assembleia da República. Afinal, Portugal retirou da lista negra dos offshores, a ilha de Man, Uruguai e Jersey, sem o parecer da autoridade tributária. Porque é que o governo ainda não esclareceu a contradição?
• A dívida pública atingiu em Abril números históricos acima dos 247 mil milhões de euros, mais 3,9 mil milhões de euros do que no mês anterior. Apesar de Bruxelas aceitar que empréstimos como o que serve a CGD não contem para o cálculo do défice, este governo aumenta a dívida.