A ganância e o egoísmo vão alastrando à escala global. O “orgulhosamente sós”, o nacionalismo e o populismo medram porque encontram chão fértil. Exploram o medo e procuram transformá-lo em ódio. A culpa é sempre de um inimigo externo, de Bruxelas, do imigrante, do refugiado, da globalização, da moeda euro.… O mal está sempre “fora”, está no outro. “Nós” não precisamos de mudar, basta expulsar o “outro”. A solução é a negação ou a rejeição.
É assim que se explica – em parte – o Brexit, a vitória de Trump, a tentativa de independência da Catalunha, a liderança de Duterte nas Filipinas, o crescimento e as coligações dos partidos antissistema e da direita e esquerda radicais.
A realidade e a tecnologia avançam a grandes velocidades e assustam. E a decisão política continua a ser reativa e tardia. Tornam-se mais atraentes as lideranças autoritárias, porque o processo de decisão é muito mais rápido, enquanto a democracia e o processo legislativo precisam de tempo. Já não há paciência para esperar.
Há quem tenha a ilusão de que o “orgulhosamente sós” é a solução para matar os problemas decorrentes da globalização. Estão tão enganados! A verdade é que só com partilha, com uma atuação conjunta e coordenada de um número significativo de Estados é que podemos aspirar a “controlar” a globalização. Olhamos para as alterações climáticas, a globalização, a escassez de recursos naturais, a segurança e abastecimento energético e as migrações como problemas, quando devemos olhar para eles como desafios e transformá-los em oportunidades. Sabemos que já não há empregos para a vida, e que há profissões a acabar e outras a começar. Perante todos estes desafios é muito fácil explorar o medo, mas esse não é o caminho.
Enquanto os radicais de esquerda e de direita exploram – com sucesso – o medo, afastam da discussão as reformas estruturais. Assim, as democracias definham. As democracias precisam de se modernizar e as decisões precisam de mais celeridade. Temos de apostar na educação, na formação adequada, no conhecimento, na investigação e inovação, numa ação solidária e conjunta para vencermos os desafios e mantermos a Paz e o nosso estado social.
É evidente que as lideranças políticas – todas elas – ajudam a este clima. É comum – habitualíssimo – os chefes de Estado apoiarem e votarem decisões em Bruxelas, mas não as assumirem nas respetivas capitais. As competências na área do emprego, saúde, pensões, juventude, fiscal, segurança e defesa são nacionais. Mas, quando há algum problema, a culpa é de Bruxelas. Pensam que as costas largas de Bruxelas dão para aguentar com tudo. Ainda que todas as instituições europeias tenham muito a melhorar, as maiores dificuldades têm resultado – até agora – da falta de ambição do Conselho Europeu. E os resultados eleitorais pela Europa toda mostram isso mesmo.
Em Itália, o resultado eleitoral e o Governo formado pelo partido antissistema – Movimento 5 Estrelas – e pelos radicais da Liga, não me surpreenderam. As instituições da UE têm responsabilidade neste resultado, porque os italianos estiveram demasiado tempo sozinhos a gerir a crise dos refugiados. Insisto, a solidariedade tem que ser praticada!
Um problema que exista num Estado-Membro deve ser assumido como um problema de todos os Estados-Membros. A falta de união e de partilha tem tido um enorme custo político e financeiro.
Em Espanha, o Partido Socialista chegou ao poder através de uma moção de censura que fez dois em um: destituiu Mariano Rajoy que tinha ganho as eleições e deu a chefia do Governo ao socialista Pedro Sanchez, cujas últimas sondagens lhe davam o quarto lugar, atrás de Ciudadanos, Partido Popular e Podemos! Pedro Sánchez teve o apoio dos nacionalistas bascos e dos independentistas catalães, assim como do Podemos, uma espécie de bloco de esquerda.
As geringonças também se vão assim alastrando. Admito que se possam aguentar. No entanto, não servem nem o interesse nacional nem o da UE. Os partidos que as constituem têm interesses contraditórios, só permitindo uma gestão corrente, sem rasgo nem ambição. A prova está em Portugal. António Costa limita-se a aproveitar os ventos favoráveis da economia europeia e mundial. A governação não inova, não moderniza, até porque as forças políticas se anulam e conduzem ao imobilismo.
Gosto
• Angela Merkel, na sua visita a Portugal, esteve na Bosch em Braga, no novo centro de tecnologia e desenvolvimento que vai ter mais de 200 engenheiros para produção de sensores e funções de software para condução autónoma. É com investimentos destes que reforçamos a nossa competitividade.
• O resultado da votação na Assembleia da República sobre a despenalização da Eutanásia era o único que fazia sentido. Permite-nos agora ter uma discussão séria e alargada sobre o tema. Estava em causa a Eutanásia ativa, conceito por muitos ainda não compreendido, mas que ia alterar muito a estrutura da nossa sociedade.
Não-Gosto
• Em abril, a dívida pública voltou a aumentar e a ultrapassar os 250 mil milhões de euros. Para além de ser das mais elevadas de sempre, constitui um dos maiores aumentos mensais de dívida pública de que há registo, tendo tido um aumento de 4,2 mil milhões de euros entre março e abril. O Governo da geringonça continua a hipotecar o futuro.
• O Governo de António Costa está a chantagear e a ameaçar os professores de forma inaceitável. Não quer contabilizar nenhum do tempo de serviço prestado, em que as carreiras estiveram congeladas, para efeitos de progressão na carreira, se os sindicatos não aceitarem o que o Governo propõe: contabilizar para efeitos de progressão apenas dois anos, nove meses e 18 dias dos mais de 7 anos em que estiveram congelados.