A humanidade só vencerá os desafios comuns que enfrenta se partilhar e atuar de forma solidária, coordenada e proativa. Infelizmente, não temos líderes para concretizar esta evidência. A gestão da crise provocada pelo Covid-19 assim o prova. Vemos Donald Trump a tentar comprar uma vacina a um laboratório alemão para a utilizar de forma egoísta nos EUA. Assistimos a países europeus a impedirem a venda de material e equipamentos médicos para outros países europeus! O egoísmo vai triunfando. Perdemos todos.
Neste momento, os líderes, à escala global, deveriam ter uma mensagem clara e comum. E deveriam congregar-se para financiar uma vacina e medicamentos que eliminassem os efeitos negativos do Covid-19.
A atitude dos líderes que nos governam contrasta com o empenho dos nossos profissionais de saúde, o altruísmo de cidadãos que voluntariamente apoiam o outro, a generosidade de instituições e empresas que praticam a solidariedade.
Perante o Covid-19, o que temos visto é descoordenação e reação dos governos. Alguém percebe porque é que não se compraram atempadamente máscaras, álcool e ventiladores?
Na União Europeia, porque é que os Estados-Membros não acionaram o Mecanismo Europeu de Proteção Civil para termos uma reserva comum com estes materiais e equipamentos?
Todos sabemos que a saúde, a proteção civil e a segurança, nomeadamente, são competências nacionais. Mas a UE tem de ajudar.
Os Estados desvalorizaram e não se prepararam, apesar do conhecimento do perigo do Covid-19. Muitas mortes teriam sido evitadas.
É notório que nos últimos anos, em Portugal, houve um desinvestimento na saúde. A qualidade dos nossos profissionais de saúde e o seu empenho ajudam a esconder a falta de meios e equipamentos.
Confio nas nossas instituições. Felizmente, os autarcas nos nossos municípios e nas juntas de freguesia são excelentes e representam uma mais valia que nem sempre reconhecemos e valorizamos.
Presto homenagem àqueles que não podem ficar em casa e trabalham para manter a economia a funcionar. Sublinho o esforço de adaptação dos que trabalham a partir das suas casas. Enalteço o papel dos professores que, utilizando plataformas digitais, vão dando aulas e trabalhos aos seus alunos. Neste âmbito, fica uma preocupação: nenhum aluno por carência no acesso a novas tecnologias poderá ficar para trás. Este será mais um desafio que temos de vencer.
Cada um de nós tem de fazer a sua parte. Atuar com responsabilidade. Cumprir as ordens e recomendações. Teremos de estar atentos, ter resiliência e paciência. As redes sociais, as videoconferências, os telefonemas ganham uma importância redobrada. Não podemos deixar ninguém isolado. Vai ser duro, mas vamos conseguir.
Salvar vidas humanas é um imperativo. Em simultâneo, é necessário agir para evitar uma catástrofe económica. Temos meios e recursos para minimizar os efeitos económicos negativos.
Em primeiro lugar, precisamos de uma solução europeia. Se a UE não diz presente num momento destes, então quando é que vai dizer? Esta crise não distingue entre os países ricos e pobres, virtuosos e desleixados, os do norte e os do sul, os bem e os mal comportados. Todos são atingidos. Por isso, exige-se uma solução europeia. O Mecanismo Europeu de Estabilidade deverá ser utilizado para emprestar o dinheiro necessário aos Estados-Membros. As empresas terão de ver os seus empréstimos renegociados para poderem fazer face ao impacto. Não excluo que possam ser subsidiadas pelo Estado.
Até ao momento, a resposta da UE é frouxa.
É positivo o anúncio do BCE de 750 mil milhões de euros para a compra de ativos, a suspensão das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento e das ajudas de Estado, o anúncio do pacote de 37 mil milhões de euros para os Estados-Membros, mesmo que este montante já fizesse parte dos respetivos envelopes nacionais da política de coesão.
Mas não é suficiente! Não é solidariedade! Os Estados-Membros não podem ficar entregues a si mesmos.
Temos de utilizar o Mecanismo Europeu de Estabilidade para que todos os Estados-Membros assumam as dívidas que cada um terá de contrair. O Plano Juncker deverá ser utilizado para apoiar as empresas com linhas de crédito, com taxas de juro próximas do zero.
A UE não pode abandonar os Estados-Membros mais frágeis, nem podemos desperdiçar todo o esforço que foi realizado pelos portugueses em consequência da bancarrota provocada pela governação do PS e que levou a que Portugal tenha chamado a Troika.
Portugal tem de fazer a sua parte. O Plano do governo de António Costa é muito insuficiente. A França e a Espanha anunciaram planos de intervenção de 345 mil milhões e 200 mil milhões de euros (respetivamente 15% e 20% do PIB), enquanto que em Portugal o governo se ficou pelos 9,2 mil milhões (4% do PIB). É urgente usar os fundos do Portugal2020, criar instrumentos financeiros para apoiar as empresas, sobretudo as micro e PME, e reestruturar as suas dívidas, de forma a que haja liquidez, utilizando-se o denominado Banco de Fomento, o BEI e o Mecanismo Europeu de Estabilidade.
Temos de fazer muito melhor e depressa. Somos capazes. Vamos vencer o Covid-19.
Gosto
• Na luta pela defesa da vida e da saúde dos portugueses perante a pandemia do Covid-19, impõe-se reconhecer o empenho dos profissionais de saúde, face à escassez de equipamentos, à sobrecarga de trabalho acumulado e que se agrava com a infeção de colegas… e aos riscos acrescidos pela falta de investimento e preparação atempada para a calamidade.
• A generosidade das instituições e empresas, a determinação dos autarcas (que se anteciparam e até substituíram o governo em muitas medidas), o voluntariado de muitos cidadãos para colmatar carências no serviço público e assistência social (nomeadamente aos idosos e mais vulneráveis) são exemplos concretos da capacidade de superação humana perante as maiores dificuldades.
Não-Gosto
• Portugal tem assumida carência de meios e equipamentos para o combate ao Covid-19. São também conhecidos os pedidos desesperados para repatriamento de portugueses em diferentes partes do mundo. Mas, desde o início desta crise, o governo português só esta segunda-feira apresentou na UE, finalmente, um pedido para ajuda ou cofinanciamento. É inaceitável.
• Apesar de todos os alertas e riscos reais em plena pandemia, ainda há relatos de falta de civismo nos parques, nas praias e nos passadiços do nosso país. A mobilização da sociedade civil na luta contra a calamidade não merecia tão desonrosas exceções, que põem em causa o sacrifício e esforço de (quase) todos. Ficar em casa é cumprir a lei, e não só respeitar mas também defender a nossa vida e daqueles que nos são mais próximos.