O combate às alterações climáticas é o maior desafio global. A UE tem de fazer a sua parte, mas o desafio só será vencido se todos, e nomeadamente EUA, China e Índia, colaborarem. Temos de ter metas comuns e uma estratégia concertada. É uma questão de solidariedade e sobrevivência. A UE tem de dar o exemplo e, por isso, traçou metas muito ambiciosas. É urgente preparar imediatamente a transição para que haja moderação, gradualismo e a aceitação das medidas pelos cidadãos europeus. O objetivo de reduzir em 55% as emissões até 2030 tem repercussões e mudanças brutais. Muitos empregos serão destruídos e as economias nacionais não serão atingidas da mesma forma. Por exemplo, o custo dos transportes e da energia vai aumentar, mas as implicações não são uniformes: Portugal será mais afetado do que os países do centro da Europa. As exportações e as importações ficarão mais caras.
No início de julho deste ano, a Comissão Europeia apresentou o pacote “fit for 55” (prontos para 55). No total, são 12 propostas, maioritariamente legislativas, para reduzir em 55% as emissões europeias de CO² até 2030. Trata-se de uma concretização do “Pacto Ecológico Europeu”, apresentado pela presidente Ursula Von der Leyen em dezembro de 2019. A lista de matérias cobertas pelo “Fit for 55” é quase interminável, e o seu impacto sobre a economia, negócios, ambiente e competitividade europeia também. Inclui medidas que vão da agricultura e florestas à produção de papel, do mobiliário à construção, da produção ao consumo de energia, dos cimentos à aviação, do transporte marítimo à indústria automóvel e de componentes, da mineração de lítio ao uso ou não de hidrogénio.
O impacto que este pacote legislativo vai ter nas vidas dos cidadãos é enorme.
No entanto, não há discussão pública em Portugal. O discurso do Governo não alerta para a urgência da ação e não se dá conta da aproximação de grandes mudanças profundas e transversais. Estas mudanças têm de ser transformadas em oportunidades. Teremos novos empregos que exigem novas qualificações. A investigação científica, as qualificações, os investimentos devem preparar Portugal e os Portugueses para as mudanças que vão acontecer.
Em Portugal, não há planeamento por parte do Governo de António Costa. A única coisa que faz é propaganda. Não governam, não planeiam, não modernizam nem preparam as mudanças. Quando é difícil, abandonam e que venha o PSD para resolver. Tem sido assim. Vai ser assim.
O Governo ainda não apresentou o plano para uma transição justa de forma a receber apoios europeus para esse objetivo. Entretanto, fechou a refinaria da Galp em Matosinhos. Antes da campanha eleitoral, António Costa considerava que estávamos a dar um exemplo a nível europeu, que éramos os maiores em termos de combate às alterações climáticas. Agora, considera que a Galp deve ser “castigada” e faz de conta que não tem responsabilidade no encerramento. Vale tudo. A verdade é que há centenas de pessoas que perderam o seu emprego, ao mesmo tempo que Portugal perdeu competitividade e que as emissões aumentaram, porque agora temos de comprar à Galiza as matérias primas que ali eram produzidas. Como é que se explica isto? É só incompetência ou haverá algum interesse escondido nos terrenos da refinaria?
Assim, não venceremos o desafio das alterações climáticas. Portugal tem de se modernizar, ser mais competitivo e menos dependente. Afinal, quando é que Portugal vai criar riqueza suficiente para deixar de andar a pedir de chapéu na mão? Mais de 85% do investimento público tem origem no orçamento europeu! Acresce que, agora, até as despesas correntes do Estado, o Governo tenta financiar com fundos europeus.
Tudo serve para a promessa fácil. António Costa só fala na ‘bazuca’ e promete, promete em tempo de campanha eleitoral. Afinal porque é que não falam do Portugal 2030? É que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) – batizado de ‘bazuca’ por António Costa – tem 13,9 mil milhões de euros de subsídios, mas o Portugal 2030 tem mais de 30 mil milhões!
Estamos em setembro de 2021 e, enquanto se fala da ‘bazuca’, não se fala do atraso na aprovação do Portugal 2030. Mais uma habilidade deste Governo. No momento em que a economia, as pequenas e médias empresas precisam de apoio, o governo adia, atrasa e faz propaganda. Sempre disse que é um disparate não se articular o PRR com o Portugal 2030, até porque este tem um envelope financeiro que é mais do dobro do PRR.
Estou inquieto e muito apreensivo. Temos muito dinheiro europeu à nossa disposição, mas o critério da sua utilização está unicamente a servir para caçar votos. Esqueceram-se do futuro e, por isso, não há rumo nem planeamento. Mas sem planeamento, não teremos o futuro que todos merecemos. Como sempre, daremos a volta, mas vai doer e não havia necessidade. É preciso acordar.
Gosto
+ Luísa Pinto – há que ter orgulho e reconhecer o mérito dos nossos. Foi com este espírito que soube da descoberta recente da investigadora vilaverdense Luísa Pinto, da Escola de Medicina da Universidade do Minho, que descobriu novas pistas para atacar a depressão e a ansiedade. Uma investigação que prestigia as instituições científicas e universitárias portuguesas, sobretudo a Universidade do Minho. Parabéns à investigadora Luísa Pinto, à sua equipa e à Universidade do Minho!
+ Fernando Pimenta – esta semana, nos Mundiais de Canoagem de Copenhaga, o canoísta de Ponte de Lima recuperou o título mundial em “K1 1000 metros” e ganhou a prata em “K1 5000 metros”. Com 108 medalhas internacionais, um bronze em Tóquio e uma prata em Londres, o Minhoto de 32 anos aponta agora ao ouro nos Jogos Olímpicos de Paris.
Não-Gosto
– António Costa – a sugestão de que os fundos europeus só serão distribuídos pelos autarcas socialistas é mais uma tentativa de condicionar as eleições do próximo domingo. Para o Primeiro Ministro, o Plano de Recuperação e Resiliência serve quase exclusivamente para a propaganda e a caça ao voto.
– António Costa – na mesma semana em que usa cargos e bens públicos na campanha socialista, o Primeiro Ministro ameaça publicamente a Galp. Mas “esquece-se” que elogiou o encerramento da refinaria de Matosinhos e que o Governo faz parte do Conselho de Administração da empresa e não impediu o despedimento de uma centena e meia de trabalhadores na refinaria. Pior do que a ideologia cega é a hipocrisia descarada.