A pandemia Covid-19 traz-nos novos desafios em diferentes áreas e setores, na nossa vida quotidiana, na relação com os outros e com as instituições. É recorrente as situações de crise sentirem-se de forma mais grave nos estratos sociais mais vulneráveis, nos mais pobres, a quem deve ser dada máxima prioridade.
As caraterísticas desta pandemia – desde logo por força das consequências do confinamento e até isolamento social – reflete-se fortemente nos mais idosos, independentemente da sua situação económica. Foram obrigados a cortarem laços familiares e de amizade, em casa e nos lares. Não podem estar com os filhos e os netos e os amigos, e estão sob permanente ameaça de contágio.
Esta dupla penalização leva a um enorme desgaste emocional, maior do que para qualquer outra geração. A situação que estão a viver neste período – e que se vai prolongar enquanto não houver uma vacina ou tratamento médico seguro que contrarie os efeitos deste novo coronavírus – tem de merecer uma forte atenção e ações rápidas em todos os Estados-Membros da UE. Precisamos de uma estratégia europeia comum, onde um dos objetivos seja o combate à solidão.
Tenho abordado repetidamente os desafios que a evolução demográfica na UE, e em especial em Portugal, nos coloca. Temos a obrigação de promover uma economia social forte e políticas que fomentem a inclusão ativa dos nossos seniores. A UE tem de reforçar apoios e medidas para garantir maior qualidade de vida e a inclusão dos mais idosos na vida ativa e nas dinâmicas sociais.
A coesão social tem de ser um primado das prioridades políticas em Portugal e na União Europeia. É um imperativo, desde logo para podermos fazer cumprir a dignidade humana como um valor inquestionável e de que a UE é um dos maiores promotores no contexto global. Valorizar as pessoas, melhorar a sua qualidade de vida e o seu bem estar terão de ser objetivos permanentes.
Quando falamos da importância de promover o envelhecimento ativo, realçamos a necessidade de tirar mais e não menos partido da vida à medida que se envelhece, tanto no trabalho como em casa ou na comunidade. E isso não afeta só cada pessoa individualmente, mas também a sociedade no seu conjunto. Os idosos têm experiência e conhecimentos preciosos que os mais jovens podem aproveitar. A evolução da qualidade de vida não se faz apenas para se morrer mais velho, mas sobretudo para se viver cada vez melhor, mesmo mais velho.
Esta pandemia impõe dificuldades acrescidas a todos, mas sobremaneira aos mais velhos. Esta é, por isso, uma oportunidade de reflexão e de promoção de medidas para melhor aproveitar a mais valia que representa a cada vez maior longevidade da nossa população, nomeadamente no que toca à partilha de experiências, atividade profissional e intervenção social. É importante que as pessoas mais velhas possam desempenhar um papel ativo na sociedade e viver de maneira saudável, independente e preenchida.
No Parlamento Europeu, juntamente com os colegas eurodeputados do PSD, avancei com um novo projeto-piloto para promover a inclusão digital nas instituições de cuidados a idosos. O “Digital ElderCare” prevê o fornecimento de equipamentos digitais e tecnológicos, a formação para os trabalhadores e utentes em novas tecnologias, o desenvolvimento de uma rede digital que permita interligar instituições de cuidados a idosos na UE e facilitar a partilha de conhecimentos e de melhores práticas. Pode apoiar lares de terceira idade, casas de repouso, centros de dia e outras entidades e associações públicas e privadas que direta ou indiretamente trabalhem com seniores.
A Comissão Europeia está atenta. Pela primeira vez, há uma vice-presidente para a demografia. Durante os próximos meses, serão apresentadas medidas, não só para atenuar o impacto do envelhecimento do ‘velho continente’, mas também para envolver os seniores numa economia inclusiva e baseada na solidariedade intergeracional. A criação de uma política comum para a
demografia, proposta pelo PSD, começa a dar os primeiros passos na Europa.
O isolamento social e familiar é também gerador de novas doenças. Temos de apostar na prevenção, diminuindo o isolamento e melhorando a qualidade de vida dos idosos e utentes dos lares.
Ao mesmo tempo, estamos a valorizar o papel dos mais idosos nesta sociedade digital, não abrindo mão da mais valia que representa a população sénior. A União Europeia tem de promover a solidariedade, a inclusão, o encontro de gerações.
É nesse mesmo contexto que no Parlamento Europeu avançámos também com propostas para ampliar recursos e dar mais força aos atores da economia social na Europa. Temos de reforçar o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, incentivar a inovação social e facilitar o acesso aos fundos europeus por parte das IPSS – para as quais é imperioso assegurar assistência técnica para elaborarem as candidaturas aos fundos, de forma a promovermos a coesão territorial, económica e social. Aliás, as IPSS e Misericórdias são uma mais valia que devemos permanentemente potenciar. Os mais idosos são uma mais valia que temos de acarinhar e valorizar. É nossa obrigação e eles merecem muito.
Gosto
A Alemanha e a França deram um passo muito positivo e impensável há muitos poucos meses. A chanceler Merkel e o presidente Macron propuseram a criação de um fundo para a recuperação da economia constituído por subvenções (subsídios) no valor de 500 mil milhões de euros. A Comissão Europeia vai buscar este montante aos mercados, com base em garantias comuns. Estas garantias e os pagamentos são feitos através do orçamento da UE. Na prática, temos uma mutualização de dívida
para a realização de apoios e investimentos para as regiões e os setores mais afetados pela Covid-19.
Não-Gosto
O ministro das Finanças decidiu avançar com um empréstimo público de 850 milhões de euros para o Novo Banco montante que estava previsto no orçamento. Mas António Costa afirmou que esta transferência só se realizaria depois de uma auditoria às contas de 2018. Centeno fez a transferência mesmo sem a auditoria e afirmou que seria uma irresponsabilidade atuar como pretendia o primeiro ministro. Instalou-se uma crise política, em tempo de crise pandémica, numa pasta central do governo. António Costa tentou reduzir tudo a falha de comunicação, depois de ter “chamado” o ministro a S. Bento. É bem evidente que Centeno está “mortinho” por sair do governo.