Se qualquer um de nós precisar de pedir um empréstimo mas, em simultâneo, afirmar que já não consegue pagar os que já tem, alguém nos empresta mais dinheiro?
É evidente que não, a menos que o faça mediante condições incomportáveis, nomeadamente taxas de juro altíssimas.
A esquerda radical assinou uma declaração escrita, no Parlamento Europeu, onde afirma que a nossa dívida é insustentável. Tal significa, para essa esquerda, que Portugal não consegue pagar aquilo que deve! Assim, pede a renegociação da dívida, a fim de reduzir o seu tecto, ou seja, pede um perdão de dívida. Aquela declaração será assinada, sobretudo, por deputados da extrema-esquerda e extrema-direita. Neste momento, tem portugueses e gregos a “liderar” a declaração. Andamos sempre a evitar comparações com a Grécia, que – é bom recordar – continua a executar um programa de assistência financeira com medidas de austeridade duríssimas. Nós já mandamos a Troika embora, eles ainda continuam com a Troika e, inclusivamente, reconhecem-nos como exemplo pelo que fizemos nos últimos quatro anos.
Portugal continua a precisar de financiar a sua economia. Se dizemos aos mercados que não conseguimos pagar o que devemos, se afirmamos que não assumimos os compromissos, é por demais evidente que as taxas de juro vão subir e, consequentemente, haverá um prejuízo para as empresas, uma penalização das famílias e uma redução do emprego.
Os partidos da ‘geringonça’, ao clamarem pelo não cumprimento de compromissos assumidos, ao pedirem o perdão de dívida, ao afirmarem que não conseguiremos pagar, estão a antecipar um desastre governativo. Esta declaração é ainda uma confissão de incapacidade, incompetência e impotência. Representa uma manifesta perda de credibilidade.
É bom lembrar que o empréstimo de 78 mil milhões relativo ao resgate pedido pelo governo socialista de José Sócrates tinha inicialmente taxas de juro perto dos 5%. O governo anterior, liderado por Pedro Passos Coelho, assumiu que pagava a dívida e renegociou-a, sem alaridos, diminuindo as taxas de juro para perto dos 2%. Tal significou uma redução do esforço dos contribuintes portugueses em várias centenas de milhões de euros. Para além disso, houve o re-escalonamento da dívida e a antecipação de pagamentos. Os mercados confiavam em Portugal e isso fez toda a diferença.
Mas esta declaração mostra o incómodo da esquerda radical que quer fazer de conta que não tem responsabilidade, nem conhece as novas medidas de austeridade escondidas no plano de reformas e no programa de estabilidade. Para tal, nada melhor do que vários discursos contraditórios, em simultâneo e em lugares diferentes. Em Portugal apoiam medidas de austeridade, em Bruxelas criticam essas medidas com um discurso para ser ouvido em Portugal.
À esquerda radical tudo é permitido. Até a duplicidade da ação e o assinar declarações que prejudicam o interesse de Portugal. E ainda têm o descaramento de chamar anti-patriotas àqueles que defendem, sempre, os interesses de Portugal!