O tempo passa para tudo e para as datas históricas também. Mas a memória fica, ainda que para tal tenha de ser reavivada.
Assim acontece, como é natural, com o 25 de Abril de 1974. Tendo ocorrido há 42 anos, é cada vez mais uma data que, sem perder a importância simbólica de que se reveste, vai enfileirando com datas históricas como o 10 de Junho, o 1 de Dezembro ou o 5 de Outubro, entre outras.
Hoje, 42 anos decorridos, há gerações de portugueses que nasceram depois do dia libertador, que não conheceram a ditadura e para os quais só nos livros de História é possível encontrar uma memória do que era Portugal antes da reconquista da Liberdade e da Democracia.
E a esses não é já possível continuar a justificar o 25 de Abril apenas com a libertação de um regime opressivo, que mantinha um país atrasado, económica e culturalmente, e uma sociedade cerceada de direitos fundamentais, a par de três teatros de guerra em África que exauriam o país em termos financeiros e neles empenhava e depreciava sucessivas gerações de jovens.
Para estas gerações mais novas e cada vez mais exigentes, o 25 de Abril trouxe a liberdade e a democracia, tal como o 5 de Outubro trocou a monarquia pela república e o 1º de Dezembro a reconquista da independência.
Datas históricas, momentos importantes numa História milenar. E depois?
Que representa para a juventude de hoje o 25 de Abril? Que credibilidade dá a discursos que têm tendência à monotonia e repetição?
Nasceram em liberdade, num regime democrático e, muitos deles, com Portugal já integrado na União Europeia e membro de pleno direito desse enorme espaço político, económico e cultural.
Há que reavivar a memória, uma vez que os jovens não têm termos de comparação, por experiência directa, com um passado radicalmente diferente. Não sabem o que era a falta de liberdade, a censura, a polícia política, o atraso cultural, o analfabetismo, a falta de vias de comunicação, os rácios aterradores em termos de saúde, de segurança social, de acesso à Justiça ou de morte à nascença. Sabem aquilo que lhes é contado pelos seus ancestrais ou lêem nos manuais de História.
Em contrapartida, têm um acesso à informação, à cultura e ao mundo que os rodeia incomensuravelmente maior que os seus pais ou avós tinham.
A liberdade e a democracia deram-lhes pluralismo jornalístico e de opinião, possibilidade de escolha entre múltiplos canais de televisão e rádio, mas, acima de tudo, a mais poderosa ferramenta de informação até hoje inventada que é a Internet.
Por isso, não comparam o Portugal “deles” com o Portugal dos seus pais e avós.
Comparam-no com outras realidades. Que conhecem pela internet, pelos meios de comunicação e também pelas possibilidades de viajarem, especialmente numa Europa com cada vez menos fronteiras – até agora-, e conhecerem “in loco” outras realidades, outras culturas e outras sociedades com uma qualidade de vida superior à do seu próprio país.
E isso torna-os exigentes, reivindicativos e nada propensos a aceitarem que um passado cada vez mais longínquo ainda sirva de desculpa para as assimetrias dos tempos que correm em relação a outros países que integram o mesmo espaço comunitário.
Cada vez percebem (e aceitam) menos, especialmente quando se ouvem tantas loas à Liberdade e à Democracia nas comemorações do 25 de Abril, que no seu país não tenham direito à Saúde, à Educação, à Cultura, à Segurança Social, ao Emprego, aos Salários, às Reformas e à Justiça em níveis idênticos aos que sabem existir noutros Estados-Membros.
E essa é a parte importante que Abril ainda não cumpriu, ainda que Portugal tenha todos os “ingredientes” para estar no pelotão da frente.
Temos liberdade, instituições fortes, vivemos em democracia, temos níveis de desenvolvimento incomparáveis com os existentes no tempo da ditadura, excelentes infra-estruturas, mas uma taxa de desemprego elevada, sobretudo entre os jovens. Portugal está mais velho. Precisa de dar condições, oportunidade, aos mais jovens.
Num tempo em que sobre a Europa pairam tantas sombras, das crises económicas aos refugiados passando pela fragilização de políticos e instituições, como no caso dos “Panamá Papers”, temos de perceber que as novas gerações querem mais resultados e menos conversa, melhorias reais na qualidade de vida e menos propaganda, mais soluções e menos promessas, mais igualdade de oportunidades.
Nem sempre temos conseguido explicar que vale a pena viver em Paz, no maior bloco económico do mundo, onde acedemos a mais de metade dos direitos sociais do planeta, em liberdade e democracia.
Temos de concretizar a ambição de Abril e, dessa forma, homenagear os que se sacrificaram e lutaram pela liberdade.