1- A Pandemia acaba?
Na UE todos terão acesso à vacina, mas os países pobres não terão a mesma sorte. À escala global, a pandemia não acabará em 2021. Na UE, no final de 2021, com a população vacinada, vamos caminhar – lentamente – para um regresso à normalidade. É nossa obrigação não esquecermos os países pobres. Se não for por solidariedade, que seja por egoísmo! É que, enquanto a população não estiver toda vacinada, o turismo e a economia mundial continuarão a ser afetados. Tenho insistido que estamos todos ligados e há desafios que só se vencem se atuarmos todos, juntos e de forma coordenada.
2- Tiraremos lições da Pandemia?
A pandemia demonstrou que o “orgulhosamente sós” não é solução. A UE deve reforçar as suas competências na área da saúde e proteção civil. A soberania europeia reforça a soberania nacional. A compra de vacinas pela Comissão Europeia para distribuir de forma equitativa pelos Estados-Membros da UE é um excelente exemplo. Não é necessário que todos os Estados-Membros produzam medicamentos ou equipamentos como ventiladores. Mas temos de os produzir e não estarmos dependentes de países como a China ou a Índia. A UE tinha de ser capaz de investir em setores críticos e estratégicos. Mas, quando se olha para o Quadro Financeiro Plurianual e para a “Bazuca” de 750 mil milhões de euros, verificamos que mais de 90% foi distribuído pelos envelopes nacionais e os programas europeus foram cortados, como, por exemplo, o InvestEU ou o Mecanismo Interligar Europa.
3- Economia resiste, recupera?
A UE teve, e tem, três mulheres excecionais: a chanceler Angela Merkel, a presidente da Comissão Von der Leyen e a presidente do BCE Christine Lagarde. Cumpriram. Foram corajosas. Muito por causa delas temos enormes recursos financeiros, subsídios e empréstimos, dinheiro a taxas de juro próximas do zero. Agora, o sucesso dependerá muito da qualidade dos governos.
4- O Governo vai investir ou vai gastar?
Em Portugal tenho uma enorme preocupação: o Governo atual tem a tentação de ficar com o dinheiro para si próprio. São centralistas, gostam do Estado, mas desprezam as empresas e os empreendedores. Há que definir metas e objetivos. Quando é que Portugal apresenta o acordo de parceria Portugal 2030? Vamos receber mais dinheiro. Não será aceitável os programas operacionais das regiões menos desenvolvidas receberem menos. Investir significa apostar na competitividade, produtividade, ambiente, digital e em simultâneo na coesão territorial, económica e social.
5- Eleições presidenciais: quem fica em segundo lugar?
O Prof. Marcelo ganha à primeira volta. É o único candidato a Presidente da República. É verdade. É uma competição entre os restantes. Ana Gomes será derrotada se Ventura ficar à sua frente. Marisa Matias será derrotada se João Ferreira ficar à sua frente. Há uma guerra nem sempre percetível entre Bloco e PCP. Cada um dos “restantes” faz a sua “marcação”.
6- Eleições autárquicas: Quem ganha? Será que o PS perde Lisboa e o PSD conquista o Porto?
Se tal acontecesse, o PS seria um enorme derrotado. É provável que a nível nacional o PSD aumente o número de câmaras municipais. E o PCP vai continuar a perder para o PS? Se tal acontecer, o PCP não tira ilações do apoio que dá ao Governo socialista e não tira o tapete a António Costa? Teremos eleições legislativas antecipadas por causa das eleições autárquicas? Não excluo outra hipótese que elimina a pergunta anterior: poderemos ter eleições autárquicas e legislativas em simultâneo. Será a consequência do possível desmoronamento da ‘geringonça’.
7- Eleições na Alemanha – Quem ganha?
Vamos perder todos! Angela Merkel não se volta a candidatar. Depois de sair, ficaremos a perceber melhor a mais valia que representa. É uma líder. Tenho constatado o seu trabalho competente, discreto e eficaz. Devemos a Merkel a solidariedade europeia que se concretizou, por exemplo, nas medidas de combate à pandemia, como a “Bazuca”, o Quadro Financeiro Plurianual 2021/2027. Vamos ter saudades.
8- Qual será a postura de Joe Biden?
O presidente Joe Biden será mais amigo do ambiente, ponderado, previsível e, seguramente, não governará a partir do Twitter. No entanto, a UE não pode ficar à espera da proteção dos Estados Unidos. Biden vai privilegiar a cooperação com a UE? Vai virar-se para a Ásia?
9- A Presidência portuguesa da UE terá sucesso?
A Presidência portuguesa tem todas as condições para ser um sucesso. O Governo tem a tarefa facilitada. Temos uma excelente diplomacia, uma representação permanente em Bruxelas de grande qualidade. Espero que África, o Mar e o acordo Mercosul tenham uma atenção redobrada na Presidência portuguesa.
10- O Brexit vai ser problemático?
Há um acordo provisório que ainda terá de ser aprovado pelo Parlamento Europeu. Com o Brexit perdemos todos. Não há vencedores. O Reino Unido perde mais. Por um lado, corre o risco de cisão: a Escócia pretende a independência com o objetivo de aderir à UE. Por outro, corre o risco de erosão: a República da Irlanda anunciou que financiará a Irlanda do Norte para que os britânicos residentes neste território tenham acesso a programas europeus no domínio da saúde e da educação, apesar das intenções de Boris Johnson. O divórcio está consumado, mas o caminho será longo, penoso e burocrático dos dois lados do Canal da Mancha.
Em 2021, os desafios são de monta, mas estão ao alcance de um país competitivo e coeso, de uma Europa unida e de uma comunidade internacional mais livre e próspera.
Votos de um excelente 2021!
Gosto
+ O médico vilaverdense João Durães venceu o Prémio João Lobo Antunes. Foi distinguido devido a um projeto de investigação sobre doenças neurodegenerativas, que está a ser desenvolvido em Coimbra e que visa melhorar a qualidade de vida para pessoas com doenças como Alzheimer e demência por corpos de Lewy. É um bom exemplo da importância da aposta na investigação e das potencialidades de Portugal na ciência e na saúde.
+ Arrancou esta semana a vacinação contra Covid-19 na União Europeia. Os 27 Estados-Membros puderam iniciar em simultâneo os planos de vacinação. Um sinal de esperança na luta contra a pandemia. E também uma demonstração concreta da solidariedade europeia e das vantagens da partilha e ação concertada. Perante a pior crise de saúde pública do século, com violento impacto a nível social e económico na Europa, os resultados são mais evidentes.
Não-Gosto
– É inaceitável e incompreensível o anunciado aumento extraordinário – que chega a superar o dobro – dos vencimentos dos administradores da TAP, perante a reconhecida situação de falência, só travada por mais uma ajuda extraordinária e brutal do Estado e um plano de reestruturação que implicará corte de salários dos trabalhadores e um despedimento coletivo que poderá atingir as duas mil pessoas, o maior de sempre em Portugal.
– Mais de um ano depois de ter sido detetado o novo coronavírus, continuam a agravar-se as suspeitas sobre informações falsas vindas da China relativamente à origem e desenvolvimento do surto. Um estudo do Centro Chinês de Controlo de e Prevenção de Doenças revela agora que os infetados na região de Wuhan poderão ter sido 10 vezes mais que o anunciado (500 mil em vez de 50 mil). É intolerável a informação falsa que afeta a saúde dos cidadãos de todo o mundo, ainda para mais depois do impacto da atual crise pandémica e numa altura em que acaba de ser detetada uma nova variante do SARS-CoV-2.