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Incêndios: Portugal está a pagar caro o abandono do mundo rural

O mundo rural está totalmente abandonado, o que poderá sair muito caro a todos os portugueses. O alerta é do eurodeputado José Manuel Fernandes, perante os efeitos devastadores dos incêndios do último Verão, com particular incidência no Parque Nacional da Peneda-Gerês e na região envolvente.

“Há uma total ausência de políticas de desenvolvimento para o mundo rural por parte do Governo. O mundo rural está totalmente abandonado e, inclusivamente, a ser alvo de ataques sucessivos por parte da Administração Central. Nós já estamos a sentir os efeitos negativos desse erro, mas ainda vamos pagar bem mais caro esse abandono”, denuncia José Manuel Fernandes

O eurodeputado eleito pelo PSD reuniu em Braga com dirigentes de associações empresariais do Minho, que deram conta da situação problemática das empresas da região face aos efeitos negativos provocados pelos incêndios de Verão, no Parque Nacional da Peneda-Gerês e na sua envolvência geográfica (ver anexo com posição das associações empresariais).

Perante o quadro negro dos efeitos devastadores dos incêndios da dinâmica económica de todo o Minho – conforme ficou patente no encontro que decorreu na sede da Associação Comercial de Braga -, o eurodeputado reconheceu a necessidade de uma intervenção de carácter excepcional e urgente para ajudar as empresas a superar o agravamento das condições económicas, já extremamente depauperadas pela actual crise global.

Para José Manuel Fernandes, é fundamental que, na sequência dos incêndios, se comece já a trabalhar para evitar males maiores, designadamente ao nível da recuperação ambiental e da biodiversidade, dando prioridade a medidas que evitem novas desgraças quando caírem as primeiras chuvas – face ao risco de enxurradas e derrocadas devido à falta de vegetação.

“É absolutamente fundamental que se comece a trabalhar já e não se espere pelo próximo Verão para voltar a falar no assunto e esquecê-lo no Inverno”, alertou o eurodeputado eleito pelo PSD, reclamando medidas preventivas, e não apenas reacções para minorar prejuízos.

José Manuel Fernandes constatou que “as freguesias e concelhos que têm perdido população são os mais afectados pelos incêndios”. Nesse contexto, repudia a situação de abandono do mundo rural.

“Estamos a assistir a um verdadeiro ataque ao mundo rural por parte do Governo”, protestou, chamando a atenção para o fecho de escolas e centros de saúde. Em seu entender, “vão valendo as câmaras municipais”.

Um dos factores do problema reside no facto de “os gestores, os que decidem, ficam longe da realidade”. Depois, “raramente decidem a favor do mundo rural, e quando o fazem, vão a reboque do desastre e dão umas migalhas”.

José Manuel Fernandes salienta que “não há planeamento, nem estratégia”, o que leva a que em Portugal apenas de actue por reacção, em vez de se privilegiar a acção e as medidas preventivas.

Importa agir. E não podemos esquecer o grave problema do combate às alterações climáticas. É nesse contexto que a floresta deve ser pensada”, defendeu, advertindo que “não é só o Parque Nacional da Peneda Gerês que está em questão”.

O eurodeputado chama a atenção para locais em Vieira do Minho, como Salamonde e Ruivães, na zona de Rio Caldo (Terras de Bouro), e em concelhos como Vila Verde e Póvoa de Lanhoso, onde os efeitos dos incêndios foram igualmente devastadores.

Para José Manuel Fernandes, “é inadmissível a inexistência de um cadastro florestal”, o que torna impossível delinear uma estratégia eficaz de boa gestão dos recursos nacionais.

“Temos muita propriedade sem dono e outra com dono que não se sabe de quem é. Temos de começar pela base. Neste momento, ninguém sabe do que fala quando se aborda a floresta no que diz respeito aos proprietários”, exemplificou o eurodeputado, apelando à cooperação transfronteiriça e lembrando que aGaliza tem cadastro e associativismo.

No campo da prevenção, destacou a importância e urgência de se avançar com pequenas centrais de biomassa, para ajudar a rentabilizar os recursos das florestas e estimular a limpeza. “Espero que não queiram apostar em mimosas que são as que têm crescimento mais rápido”, alertou.

Contra migalhas do ministro

O anúncio de apoios por parte do ministro da Agricultura, numa visita relâmpago à zona ardida do PNPG, foi criticada pelo eurodeputado José Manuel Fernandes, face aos montantes e objectivos em causa.

“O Ministro veio dar umas migalhas e mostrar que não percebeu a necessidade urgente de intervir na estabilização dos solos de forma a prevenir derrocadas e novas perdas de bens materiais e até humanos”, lamentou José Manuel Fernandes.

Recordando que o ministro “veio dizer que vai esperar que a autoridade florestal entregue os relatórios totais dos incêndios”, o eurodeputado alertou que isso significa que ter-se-á de esperar por uma intervenção “depois de 30 de Outubro” – o que considera ser “inadmissível”.

“Nas áreas ardidas já é possível e desejável intervir, semeando pastos, estabilizando terras, removendo pedras, tudo na tentativa de evitar a erosão e desastres que vão surgir com as chuvas se nada se fizer. Deve-se intervir já. Usem-se já os fundos comunitários para este objectivo”, apelou José Manuel Fernandes.

O eurodeputado lamentou ainda o estado degradado das viaturas de serviço dos funcionários e vigilantes do Parque Nacional da Peneda Gerês. E alertou que “não há solução para o parque com políticas que vão contra as populações que residem no parque”.