Não restam hoje dúvidas que os governantes radicais gregos do Syriza estão, de forma irresponsável e desumana, a levarem a Grécia para uma catástrofe de dimensão difícil de imaginar face a tudo que envolverá, para os gregos, uma saída do euro que parece cada vez mais inevitável.
Desde a primeira hora, ainda antes das eleições, estava claro que o Syriza prometia concretizar, melhorar, mas com o dinheiro dos outros… Uma vez atingido o poder, muito por força dessas promessas de um autêntico “paraíso na Terra”, tornou-se evidente que o impreparado governo do Syriza não só não tinha forma de cumprir o que prometera, como estava firmemente decidido a fazer tábua rasa de todos os compromissos internacionais a que estava obrigado.
Nomeadamente pagar as suas dívidas!
A partir daí, foi com crescente estupefacção que se começou a assistir a um verdadeiro festival de manobras dilatórias, em que o governo grego dizia uma coisa em Bruxelas e outra em Atenas e, pelo caminho, se constatou que as propostas do governo grego tinham cada vez mais erros e enganos no seu conteúdo, de forma a prolongar os debates e as conversações, protelando um acordo definitivo e o cumprimento dos seus compromissos.
E a verdade dos factos, por muito que o Syriza e os seus cúmplices internacionais (incluindo a esquerda portuguesa, do PS ao Bloco de Esquerda) se esforcem por a deturpar, é que a Grécia, quando os radicais chegaram ao poder, estava já numa fase de recuperação que a levava, inclusive, a ter crescimento e excedente orçamental. E agora, fruto destas políticas suicidas do seu governo radical, voltou à recessão, ao aumento do desemprego e a uma convulsão social em crescendo.
Hoje, os gregos fazem filas nas bombas de gasolina, estão constrangidos a não poderem levantar mais de 60 euros por dia nos multibancos, esvaziam as prateleiras dos supermercados com receio que os bens essenciais venham a faltar num curto prazo de tempo.
Creio que, para além de incompetência e má-fé do Syriza, o que por si só já seria bastante para desqualificar um governo, existe claramente um programa ideológico a ser cumprido e que aponta para a destruição do euro e da integração europeia e que assenta na mais completa insensibilidade perante os sofrimentos do povo grego e dos incomensuráveis prejuízos que a Grécia sofrerá, se esta verdadeira loucura for levada até ao fim.
Este guião maquiavélico do Syriza, que só por tacticismos eleitoralistas não tiveram coragem de exprimir em campanha eleitoral porque sabiam que os levaria à derrota, tem agora o seu expoente com a convocação de um referendo para o próximo dia 5 de Julho, versando matérias que já nem existem, porque o tempo de serem negociadas foi desbaratado pelos atrasos e recuos do governo radical grego.
Se no referendo os gregos votarem “sim”, o que vai fazer o governo do Syriza perante aquilo que será uma autêntica moção de censura popular à sua política e à sua estratégia perante a Europa?
Demite-se, reconhece que falhou e convoca eleições?
Parece-me evidente que não.
Depois de falhada a jogada de atirar para o povo a decisão sobre uma matéria que competia exclusivamente ao governo (a Grécia é uma democracia representativa, convém não esquecer), acredito que o Syriza vai manter-se no governo para prosseguir a aplicação do seu “guião maquiavélico” e contrariar, pelos actos, a vontade popular de manter a Grécia na zona euro e numa Europa a 28.
A isto se chama cobardia, incoerência, manipulação!
A Grécia é importante para a União Europeia – todos os sabemos.
Por razões culturais, políticas, geoestratégicas.
A sua permanência na zona euro é fundamental e a Europa tem feito todos os esforços, com uma paciência que não tem tido limites, para que isso possa acontecer, apesar da irresponsabilidade e má-fé política do actual governo grego.
Porque a Europa da liberdade, da tolerância, da cultura e da solidariedade se preocupa mais com o povo grego e as dificuldades em que vive do que com a penalização merecida por um governo irresponsável, incompetente e que não se importa de mergulhar a Grécia e os gregos numa crise brutal e de consequências imprevisíveis, apenas para cumprir um programa de terrorismo político que balança entre os apoios da Rússia de Putin e da Frente Nacional de Le Pen.
É de realçar que Portugal soube fazer frente a uma crise semelhante à da Grécia.
O actual governo herdou uma situação catastrófica, mas soube honrar o memorando assinado pelo Governo socialista liderado por Sócrates, combater a crise com sucesso, pagar antecipadamente alguns dos seus compromissos, baixar o deficit para valores nunca atingidos em democracia, reganhar a credibilidade dos seus parceiros internacionais e dos mercados – onde se financia hoje a taxas de juro baixíssimas, quando não negativas – e evitar que os portugueses estejam hoje na situação angustiosa dos gregos.
Não foi fácil. Mas, hoje, Portugal, face às acertadas políticas seguidas em termos de rigor, tem uma “almofada financeira” que o põe ao abrigo de inevitáveis sobressaltos provocados pela questão grega, o que se revelará seguramente de valor inestimável.
Convém lembrar que foi o PS que nos mergulhou na crise e obrigou à assistência externa, mas que nada fez em quatro anos para ajudar a resolver um problema que fosse, e registar que António Costa saudou entusiasticamente a vitória do Syriza, apontando-o como um caminho a seguir! Exigia-se agora, no mínimo, a humildade democrática de reconhecer que se enganou e que, afinal, não era por “ali” a via que Portugal devia percorrer. Hoje, está provado que foi difícil, mas Portugal trilhou o caminho certo e seguro.