Artigo de Opinião

Desenvolver a genialidade do Abade

A figura e o legado do Abade de Priscos, um membro do clero que se evidenciou pelos serviços prestados à sua comunidade local e ao país entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, revelam-se de forma primorosa no livro “A vida e as receitas inéditas do Abade de Priscos”.

A obra, da autoria de Mário Vilhena da Cunha (sobrinho-bisneto do Abade) e Fortunato da Câmara, resulta de um trabalho sistematizado de investigação e pesquisa profunda, na procura da verdade histórica. Foi, por isso, um enorme prazer ter tido a oportunidade de fazer a apresentação do livro, numa sessão com sala cheia, na Biblioteca Prof. Machado Vilela, em Vila Verde, e a que não faltou mais uma demonstração da qualidade artística de professores e alunos da Academia de Música de Vila Verde. Acima de tudo, foi um acto de justiça para a qualidade, simbiose, sintonia e generosidade dos autores na concretização desta monografia sobre o chamado ‘Papa dos Cozinheiros’.

Manuel Joaquim Machado Rebelo, o Abade de Priscos, nasceu em Turiz, Vila Verde, em 1834, e foi abade em Priscos, Braga. Faleceu às 20h dia 24 de Setembro de 1930, com 96 anos de idade, na Casa do Reguengo, em Vila Verde, e foi sepultado no dia 26, em jazigo da família no cemitério de Turiz.

O Abade de Priscos era generoso, genial, inovador, calmo, meticuloso e adepto da perfeição. Em resposta de agradecimento ao ministro da justiça Manuel Rodrigues Júnior, após a publicação do decreto, em Novembro de 1927 (tinha 93 anos!), relativo à aprovação da sua reforma, escreveu a frase que está na abertura do livro: “Prestei bons serviços a todas as políticas na Monarquia e na República; Prestei muitos serviços a bons amigos sem outra remuneração.”

É verdade: os serviços que prestava eram gratuitos. Era um homem da arte, bordava a ouro, executava perfeitos arranjos florais, tinha interesse na química e na fotografia. Ficamos a conhecer melhor o homem que cumpriu com os seus deveres religiosos, amava a família e as suas origens.

O livro é um “dois em um”: dá-nos a biografia mais completa e exaustiva até hoje publicada do Abade de Priscos e, simultaneamente, presenteia-nos com 40 receitas inéditas.

Ao lê-lo, somos transportados no tempo e no espaço. A linguagem simples e sugestiva desafia à sugestão de servir de guião para um filme sobre o ‘Papa dos Cozinheiros’. Sente-se e respira-se o amor à terra, à arte, às raízes, à família, ao belo. Diria mesmo que é essa a génese do livro, onde o reconhecimento, a gratidão e a revelação se entrelaçam. Sinto que escrevê-lo foi, para os autores, uma forma de amar, partilhar e transmitir um legado e emoções.

As 40 receitas reveladas são uma prova de generosidade da família do Abade e constituem um desafio para a nossa gastronomia nacional e, de forma particular, da nossa região. São um hino ao simples e ao belo: através da combinação genial de ingredientes de fácil acesso, atingimos o ideal, o “ponto óptimo”. Os pormenores, esses, contam todos e fazem a diferença. Em cada toque da refeição e até na disposição dos alimentos na travessa, há uma pincelada de amor. Tal como em cada ponto dos lenços de namorados. Afinal, também eles são arte, paciência, amor e paixão.

Esta obra é uma mais-valia que aumenta a nossa responsabilidade. A nossa gastronomia e a nossa região só podem dizer obrigado e tudo fazerem para respeitar, estar à altura, utilizar e desenvolver a genialidade do Abade.

Gosto

• Pela primeira vez, em 15 anos, os alunos portugueses superaram a média da OCDE a ciências, leitura e matemática, no âmbito da avaliação feita em 2015 pelo estudo internacional de referência Programme for International Student Assessment (PISA).

• As repetidas eleições presidenciais de domingo na Áustria deram a vitória ao liberal e pró-europeu Van der Bellen. Com a derrota inesperada da extrema-direita de Hofer, sobressaíram as contradições dos discursos populistas.

Não-Gosto

• O referendo em Itália, que acabou por levar à queda do governo de Mateo Renzi e provocar instabilidade política e económica, serviu mais para fazer a avaliação ao governo italiano do que da proposta de revisão constitucional em causa.

• Os que não conseguem aplaudir ou levantar-se na Assembleia da República após a intervenção do Rei de Espanha são os mesmos que elogiam um ditador. Contradições insanáveis!