Artigo de Opinião

Mundo Aberto

Votei favoravelmente, na sessão plenária de Estrasburgo do passado dia 15 de fevereiro, o Acordo Económico e Comercial Global entre a União Europeia e o Canadá (CETA) que foi aprovado com 408 votos a favor, 254 contra e 33 abstenções. O CETA, ainda que seja aplicado a título provisório a partir do próximo mês de abril, só entra plenamente em vigor depois de ser ratificado pelos Parlamentos nacionais e regionais de todos os Estados-Membros.

Aprovámos um acordo abrangente, ponderado, moderno e ambicioso. A eliminação de 99% dos direitos aduaneiros ajudará as empresas europeias, dará mais oportunidades de investimento e permitirá a criação de emprego.

As empresas europeias serão mais competitivas no Canadá, vão poder concorrer a contractos públicos para fornecimento de mercadorias e serviços, não só a nível federal, mas também a nível das províncias e dos municípios do Canadá. Vão surgir oportunidades, para os agricultores de produtos e alimentos e para fabricantes de produtos tradicionais de alimentos e bebidas da Europa. Os custos para as empresas baixam sem diminuir os padrões de qualidade, beneficiando as Pequenas e Médias Empresas. Mais produtos a preços mais baixos vão beneficiar os consumidores.

O reconhecimento de algumas qualificações vai permitir aos cidadãos da União Europeia trabalharem no Canadá, em deslocações temporárias ou com prestação de serviços. Haverá ajudas às indústrias criativas e inovadoras. Os músicos europeus, artistas e outros serão recompensados pelo trabalho.

No que diz respeito ao investimento por parte de empresas europeias no Canadá, não haverá discriminação de investidores nacionais e estrangeiros.

O CETA cria um novo modelo de resolução de litígios em matéria de investimento (sistema de tribunais de investimento – STI), de carácter permanente, com juízes nomeados pelas autoridades europeias e canadianas e um mecanismo de recurso.

Para Portugal, tal como para toda a Europa, este acordo significa a melhoria das relações comerciais com o Canadá. No nosso país, as exportações para países fora da União suportam 335.000 empregos, pelo que acordos que potenciam as exportações são uma mais-valia para Portugal. Em 2015, a nossa balança comercial com o Canadá foi francamente positiva, com as exportações a ultrapassarem as importações em cerca de 434 milhões de euros. Ao reduzir as barreiras comerciais, eliminar as tarifas alfandegárias e simplificar os procedimentos comerciais, o CETA traz um incentivo ainda maior para as exportações e beneficia as nossas PME, que representam 94% do valor das nossas exportações.

Para além do CETA, aprovámos um Acordo de Parceria Estratégica entre a UE e o Canadá, que intensifica a cooperação bilateral em domínios como a política externa e de segurança, o combate ao terrorismo, a luta contra a criminalidade organizada, o desenvolvimento sustentável, a investigação e a cultura.

Com o CETA, a União Europeia reforça a parceria com o Canadá, um país com quem partilha os mesmos valores, ao mesmo tempo que contribui para reforçar o crescimento económico e o desenvolvimento social dos europeus.

Como é tradição no Parlamento Europeu, os radicais de direita e de esquerda -onde também estão o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista – votaram contra, invocando que os padrões de exigência e o enquadramento legal da produção vão baixar. Isto não é verdade. O acordo estabelece regras transparentes, mutuamente vantajosas para regulamentar o comércio e o investimento, com exigentes padrões de segurança alimentar e de protecção do meio ambiente.

Na União Europeia começa a ser difícil – retirando as questões fracturantes – fazer distinções entre a extrema-esquerda e a extrema-direita. Na verdade, os extremos são a favor da saída do euro, intitulam-se os defensores do povo, promovem o nacionalismo, defendem o “orgulhosamente sós”, querem um mundo fechado. Ao contrário, eu defendo um mundo aberto.

Gosto

• O festival de Papas de Sarrabulho em Amares teve, este fim-de-semana, mais uma edição, com a maior adesão de sempre. Com um aumento estimado de 30% de adesão relativamente ao ano anterior, este evento tem cada vez maior visibilidade.

• Portugal e Espanha reforçam a coordenação de projectos de ligação ferroviária, permitindo que os vários investimentos a realizar dos dois lados da fronteira passem a estar organizados e tenham uma estratégia comum.

Não-Gosto

• O “caso” dos offshores que nos assolou nos últimos dias tem sido tão mal explicado, que levou a mais confusão do que esclarecimentos. A falta de publicação dos dados estatísticos é uma falha, mas não significa que ficaram impostos por pagar ou que as transferências foram ilegais. Esclareça-se tudo!

• A dívida pública aumentou, em Janeiro de 2017, 1,8 mil milhões de euros relativamente ao final de 2016. O mesmo Governo que faz bandeira da redução do défice aumenta a dívida em 1,8 mil milhões de euros, num mês! Era bom que explicassem como é que pretende manter a sustentabilidade financeira de Portugal.