José Manuel Fernandes, o eurodeputado do PSD mais bem colocado nos rankings de Estrasburgo, apoiou Rangel e agora apoia Montenegro. “São dois lutadores”
O eurodeputado José Manuel Fernandes, do PSD, diz que não há líderes europeus, apenas “governantes”. Em entrevista ao programa Interesse Público, a que pode assistir no site do PÚBLICO, defende a urgência de parar o “financiamento” do esforço de guerra russo: “Temos de conseguir o embargo total, rapidamente, do gás, do petróleo e do carvão como forma de acabarmos o mais rapidamente a guerra”.
Declarou o apoio a Luís Montenegro porque vê nele “um líder com força política que cria empatia com os militantes e os portugueses”. Jorge Moreira da Silva não tem essas qualidades?
Eu considero que o Luís Montenegro reforça as qualidades que, no fundo, o Jorge Moreira da Silva também tem. Nós vamos precisar, por um período longo, de um combate político permanente e, por ter sido líder parlamentar, Luís Montenegro tem essa experiência. É competente e demonstrou que é resistente, resiliente, características que considero essenciais para a liderança do PSD. E nós também precisamos de uma equipa. E se olharmos para Luís Montenegro, para além de ter ido buscar o Joaquim Miranda Sarmento, tem como director de campanha Carlos Coelho, o que significa que está a alargar a equipa.
Apoiou Paulo Rangel nas últimas directas. O que é que há em comum entre Paulo Rangel e Luís Montenegro?
São dois lutadores. E o Paulo Rangel também tem uma força política enorme e gosta do combate político.
Numa entrevista que deu ao Observador Jorge Moreira da Silva disse que não teria votos por ter oferecido um lugar para o Parlamento Europeu. Luís Montenegro quer contar consigo para o Parlamento Europeu daqui a dois anos?
Não faço a mínima ideia. Nunca tive nenhuns acordos em troca de apoios. Nunca o fiz, nunca o farei. Com Luís Montenegro tenho zero acordos em relação a qualquer lugar.
Faz parte da comissão do Orçamento. O Presidente está preocupado e pessimista como a forma como o Governo está a gerir a bazuca. Marcelo tem razão?
Tem razão, mas eu já estou preocupado há muito tempo. Apresentou-se um Plano de Recuperação e Resiliência e não houve nenhuma articulação. Devíamos acordar todos o que queremos para Portugal em 2030. Olhando para o que ainda falta executar, são cerca de seis mil e quinhentos milhões de euros do Portugal 2020. Agora temos 56 mil milhões de euros, dinheiro como nunca tivemos. Mas temos que saber o que queremos fazer com este dinheiro. E era necessário envolver o território, todos os beneficiários, as universidades, e esse trabalho não foi feito. E depois de definirmos o que é que queremos, veríamos o que faz o Portugal 2020 e o que é que o PRR também deveria fazer. E já agora, o Orçamento do Estado o que é que faz? Estamos com um problema gravíssimo, somos o país da União Europeia onde o Orçamento do Estado faz menos pelo investimento público. 90 por cento do investimento público em Portugal tem origem no orçamento da União Europeia. Se olhar para 2007/2013, era só 50 por cento. É por isso que a Hungria já nos ultrapassou e a Roménia está a caminho. O PRR da Grécia tem um impacto no PIB muito superior ao nosso, ou o da Hungria, ou a
Costa fez mal em extinguir o ministério que tratava dos fundos?
Fez. Não há coordenação. É uma ausência de estratégia. É um erro não usar estes recursos para apoiar as empresas. Eu defendo, à escala da União Europeia, que haja um instrumento para a solvabilidade das empresas. Mas podíamos criar nós próprios um instrumento para a solvabilidade das empresas, das que foram atingidas pela pandemia e agora pela guerra. Era importantíssimo que o Banco de Fomento tivesse músculo e não tem, infelizmente.
Como viu o discurso de Macron no dia da Europa em que defendeu o estatuto de país associado da UE para a Ucrânia?
Macron foi evasivo, quase que dava uma no cravo e outra na ferradura… até abriu a porta para a entrada da Ucrânia, mas depois quando falou da Moldávia, Geórgia, começou a falar numa espécie de agrupamento. É evidente que a adesão da Ucrânia coloca desafios enormes em termos da arquitectura da União Europeia e dos fundos. França é dos que mais recebe na Política Agrícola Comum. Passaria a partilhar muitos destes fundos com a Ucrânia. Mas isto é o sentimento egoísta dos nossos governantes. Eu não lhes chamo líderes. São governantes. Se fossem líderes, não estávamos a dar mil milhões de euros por dia para o senhor Putin andar a comprar armas!
Preferem todos o ar condicionado, como dizia Mario Draghi?
E disse muito bem. O grande problema que nós temos são os egoísmos nacionais. Às vezes o Conselho [Europeu] é efectivamente a soma de 27 egoísmos nacionais onde os governantes olham para a forma que têm de ganhar as eleições. No que diz respeito à energia, foram gulosos, queriam energia mais barata. Todos sabiam do perigo que estava ali, das intenções do senhor Putin. Mas quiseram energia mais barata. Para termos líderes europeus, eles não podem ter medo de perder eleições. Claro que as sanções têm um efeito ricochete e também nos prejudicam, mas não avançar para elas tem um custo não só agora, como muito mais à frente. Acho que todos já perceberam que o senhor Putin não quer ficar pela Ucrânia.
A adesão da Finlândia à NATO não vem aumentar a escalada da guerra? A Rússia diz que há o risco de uma guerra nuclear.
Não concordo que contribui para a escalada. É a forma que a Finlândia entende que tem de se proteger porque tem um vizinho que é uma ameaça.
As tentativas de mediação para um cessar-fogo falharam todas…
Se nós queremos acabar com a guerra temos que deixar de a financiar. E temos de ter paciência e saber que isso prejudica a nossa economia. Nós estamos a comprar mil milhões de euros de energia por dia e a pagar o triplo do que pagávamos há um ano. Estamos a financiar a Rússia e temos de parar com este financiamento. Temos de conseguir o embargo total, rapidamente, do gás, do petróleo e do carvão como forma de acabarmos o mais rapidamente a guerra.