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Sinais e factos das eleições autárquicas

Os autarcas portugueses fazem um trabalho único e excecional. Exercem a mais forte proximidade entre os eleitos e são os mais escrutinados e vigiados. Em tempo de dificuldades, como aconteceu com a pandemia Covid-19, vão além das suas competências, entregando cartas, receitas e medicamentos. Os autarcas são uma mais valia nem sempre reconhecida e raramente valorizada. Nas eleições autárquicas, para além dos partidos, os grupos de cidadãos independentes podem concorrer. Há uma total abertura para a participação e apresentação de projetos alternativos. Por isso, é preocupante e injusta a taxa de abstenção superior a 46% nas eleições autárquicas do passado dia 26 de setembro. Já era tempo de, no mínimo, se facilitar o voto antecipado ou por correspondência. No entanto, a maioria destes mais de 46% alhearam-se, deixaram que outros decidissem.

Em regra, a campanha eleitoral e os resultados demonstraram a sabedoria dos portugueses. O grande vencedor das eleições foi Carlos Moedas e o grande derrotado foi António Costa. Nenhuma sondagem dava a vitória ou até empate técnico a Carlos Moedas, o que contribuiu para a diminuição das expectativas e para que a conquista da Câmara de Lisboa tivesse sido uma surpresa. O mérito é unicamente de Carlos Moedas, que foi lúcido, sereno e competente. Lisboa ganhou um Presidente Moderno e “com mundo”. António Costa – sem necessidade – quis nacionalizar as eleições locais e perdeu em Lisboa e em autarquias importantes, como Coimbra, Barcelos e Funchal. Os portugueses penalizam a arrogância e não valorizaram as promessas de última-hora e o recurso permanente aos milhões da ‘bazuca’.

No Minho, a abstenção foi significativamente menor que a média nacional. No distrito de Braga, ficou abaixo dos 37%, enquanto em Viana se fixou nos 40% – neste caso muito por culpa da já habitual abstenção empolada de Melgaço, onde apenas votaram 41% dos inscritos. No Baixo Minho, o concelho de Braga foi o que registou maior abstenção: menos de 57% dos eleitores foram votar. Em contraponto, Vieira do Minho (28%) e Vila Nova de Cerveira (28,5%) e foram os concelhos menos abstencionistas, destacando-se ainda Póvoa de Lanhoso (29%), Celorico de Basto (30%) e Barcelos (30%).

A minha intuição dizia-me que o PSD conquistava Barcelos e não perderia nenhum Município no distrito de Braga. Enganei-me: perdeu a Póvoa de Lanhoso. Nas contas finais e em termos de número de municípios, o PSD continua a liderar nove das 14 Câmaras Municipais. A vitória do PSD em Barcelos prova que as estruturas locais nem sempre querem ganhar as autarquias, porque nem sempre seguem a melhor estratégia e escolhem os melhores. O Mário Constantino e o Carlos Reis merecem destaque, porque foram os arquitetos da vitória que Barcelos precisava.

O PSD manteve a liderança dos municípios de Famalicão, Celorico de Basto e Vila Verde, apesar dos presidentes de Câmara não se terem recandidatado. A mudança de ciclo traz um aumento da probabilidade da mudança de cor partidária da autarquia, tal como a estatística nacional o demonstra: 44% das câmaras que mudaram de partido foram em municípios onde os presidentes de Câmara atingiram o limite dos mandatos. Esta tendência não se verificou no distrito de Braga. Já no Alto Minho, o PS manteve o poder em Viana do Castelo (apesar da saída de José Maria Costa) e conquistou novas presidências em Valença e Vila Nova de Cerveira, onde os anteriores presidentes não puderam recandidatar-se.

Nas próximas eleições autárquicas, não poderão concorrer os presidentes de Câmara de Braga, Guimarães, Esposende, Amares, Cabeceiras de Basto e Vieira do Minho, assim como os de Arcos de Valdevez, Caminha, Melgaço e Paredes de Coura.

Nestas eleições, a vitória mais expressiva foi para Manuel Tibo, que ganhou com mais de 76% dos votos e conquistou os 5 mandatos na Câmara Municipal de Terras de Bouro. Com mais de metade dos votos expressos, venceram também Manuel Moreira em Amares, Benjamim Pereira em Esposende, Antero Barbosa em Fafe, António Cardoso em Vieira do Minho, Mário Passos em Famalicão, Júlia Fernandes em Vila Verde e Victor Hugo Salgado em Vizela, assim como João Manuel Esteves nos Arcos, Manoel Batista em Melgaço, António Barbosa em Monção, Vítor Paulo Pereira em Paredes de Coura e Rui Teixeira em Cerveira.

Nos concelhos de Basto, os vencedores não conseguiram chegar à maioria: o social-democrata Peixoto Lima em Celorico e o socialista Francisco Alves em Cabeceiras vão ter de procurar entendimentos com a oposição no executivo. O mesmo acontece com José Manuel Carpinteira, em Valença.

Nas 553 freguesias do Minho, há 119 presidentes de Junta eleitos em listas de cidadãos independentes. O PSD – incluindo candidaturas em coligação – conta 240 presidências e o PS 185, restando ainda 16 para o CDS (todas de Ponte de Lima, onde o CDS mantém a única Câmara do Minho fora da disputa PSD-PS) e 3 para a CDU.

A eleição para as juntas de freguesia tem normalmente uma forte preponderância nas dinâmicas eleitorais, mas os resultados mostram que as decisões do eleitorado se baseiam em grande medida nos candidatos. Se é verdade que em concelhos como Vila Verde, Amares, Terras de Bouro e Esposende só há presidentes de Junta eleitos pelo PSD (incluindo em coligações) e em listas independentes, já em Barcelos o PS ganhou mais presidências de Junta que PSD/CDS e na Póvoa de Lanhoso o PSD superou o PS, ao contrário do que aconteceu na eleição para as câmaras municipais. Também em Valença o PSD conta 6 presidentes de Junta contra 2 do PS, que ganhou a eleição para a Câmara. Em Melgaço, o PS tem as 13 juntas do concelho, apesar de no executivo camarário ter 4 elementos contra 3 do PSD.

A todos os eleitos, seja no exercício de poder seja no papel de oposição, importa que trabalhem sempre com o objetivo de procurar soluções e ajudar ao desenvolvimento e à contínua melhoria da qualidade de vida das nossas populações. Pela proximidade que mantêm ao eleitorado, até pela natureza dos cargos que desempenham, os autarcas estão numa situação privilegiada para perceber melhor as necessidades e expectativas das nossas populações, e também por isso têm responsabilidade acrescida em responder de forma concreta e o mais eficiente possível. É isso que, felizmente, determina os melhores e os piores resultados eleitorais.

Gosto

 Portugal sagrou-se, no domingo passado, campeão do Mundo de futsal, pela primeira vez na história. Um feito notável protagonizado por um grupo de jogadores de excelência – com 3 jogadores do SC de Braga/AAUM- sob o comando do “Mister” Jorge Brás, que com a sua humildade e sapiência levou Portugal ao topo do mundo. Uma palavra para Ricardinho, que foi distinguido como o homem do torneio, no último “tango que dançou” com a camisola das Quinas. Ele é um exemplo de dedicação, paixão, humildade, resiliência e talento. Obrigado!

 

+ Carlos Moedas ganhou, no passado domingo, a corrida à Câmara de Lisboa. O candidato da coligação “Novos Tempos” conseguiu garantir o lugar de autarca lisboeta com 34% dos votos, retirando o lugar a Fernando Medina. Uma vitória pessoal e política contra tudo e contra todos. Uma vitória que abre um novo ciclo de governação e que traz uma nova esperança a Lisboa e a Portugal.

 

 

 

Não-Gosto

– A fuga do ex-banqueiro João Rendeiro, confirmada publicamente pelo próprio, é uma clara falha da Justiça portuguesa e, sobretudo, na forma como se aplica a lei. É um escândalo, uma vergonha e uma “descredibilização do Estado de Direito”. Estamos perante uma derrota humilhante do sistema judicial. O país precisa de confiar no sistema judicial e este caso é mais um golpe neste pilar que sustenta a nossa democracia.

– Pandora papers: milhões de documentos revelam negócios secretos e ativos escondidos de algumas das pessoas mais poderosas e mais ricas do mundo, numa investigação do consórcio internacional de jornalistas. Abriu-se mais uma ‘caixa de Pandora’, que expõe o maior número de dados de sempre nas offshores. Fica claro que as offshores facilitam a fuga aos impostos, o branqueamento de capitais e a ocultação de dinheiro proveniente de forma obscura, entre outros. Há que acabar, à escala global, com as offshores.