Fundamentado no exemplo dos Caminhos de Santiago, o Eurodeputado José Manuel Fernandes defende uma aposta forte e arrojada na valorização dos trajectos de peregrinação a S. Bento da Porta Aberta, com grande impacto no Norte de Portugal e na Galiza. Em seu entender, trata-se de um património de grande potencialidade para a dinamização religiosa, turística e sócio-cultural de toda a região minhota.
Frisando que o santuário de S. Bento em Rio Caldo, Terras de Bouro, é o segundo maior destino de peregrinos de Portugal, José Manuel Fernandes lança o desafio para uma intervenção estratégica por parte da entidade regional de Turismo Porto e Norte de Portugal, frisando que é em Braga que está sediada a delegação para o turismo religioso.
A ideia foi defendida pelo Eurodeputado numa sessão sobre ‘Os Caminhos de Santiago e a Integração Europeia’ que teve lugar na noite de sexta-feira em Moure, Vila Verde, encerrando um ciclo de conferências promovido pelo Município e pela Associação Espaço Jacobeus sobre os Caminhos de Santiago no Concelho de Vila Verde.
“O Turismo Cultural e Religioso pode e deve ser um motor de desenvolvimento regional. E o Minho, de fortes tradições e vivência religiosa, tem um grande potencial económico à volta do turismo religioso”, defendeu José Manuel Fernandes, que assumiu também como peregrino.
Nesse sentido, lançou o desafio para que “os Caminhos de S. Bento sejam estudados nas suas várias vertentes – religiosa, cultural, social e turística –, de forma a que sejam valorizados, recuperados e divulgados”, propondo que sejam “trabalhados como uma marca cultural e produto turístico”.
“Convém sublinhar – porque pouca gente o sabe – que os galegos também são peregrinos de S. Bento da Porta Aberta, fazendo o percurso a pé. Muito há a fazer na promoção dos Caminhos de S. Bento, podendo aumentar os números de peregrinos vindos de Espanha”, argumentou o Eurodeputado.
Embora reconhecendo que já feita alguma coisa pela valorização dos Caminhos de São Bento, anotou que “muito há, ainda, que pode e deve ser feito”. Para isso, reclama “coordenação e mobilização de sinergias”, num desafio que deve ser assumido pela Região de Turismo Porto e Norte de Portugal, e mais concretamente pela delegação de turismo religioso sediada em Braga.
Em favor de um trabalho produtivo e eficiente, defendeu uma intervenção integrada, capaz de capitalizar a dinâmica de eventos e santuários que mobilizam muitos milhares de peregrinos e turistas, a começar pela Semana Santa de Braga e incluindo santuários como os do Sameiro (Braga), Santa Luzia (Viana do Castelo), Penha (Guimarães), Peneda (Arcos), Franqueira (Barcelos), Alívio (Vila Verde) e S. Bartolomeu (Esposende), entre outros.
Causa europeia
Como membro do Intergrupo do Parlamento Europeu ‘Caminhos de Santiago’, José Manuel Fernandes explicitou o forte contributo da causa jacobeia no espírito e fundamentação ideológica do processo de pacificação e integração europeia.
“Os peregrinos de Santiago, ao longo de muitos séculos e muito antes de ser criada a Comunidade Económica Europeia (CEE), foram os grandes promotores de uma verdadeira e pacífica integração europeia”, afirmou o eurodeputado, identificando os diferentes caminhos de Santiago desenvolvidos ao longo da história na Europa – com destaque para o francês e o inglês, além dos caminhos de Portugal.
A história da vida do apóstolo, a onomástica e diferentes terminologias usadas nos países europeus em relação a S. Tiago foram também referenciadas por José Manuel Fernandes, que sublinhou ainda o reconhecimento dos Caminhos de Santiago por parte do Conselho da Europa e da UNESCO, assim como a utilização de fundos comunitários para a valorização dos caminhos e do património histórico e cultural jacobeu.
O Conselho da Europa proclamou, em 23 de Outubro de 1987, o Caminho de Santiago como o Primeiro Itinerário Cultural Europeu e, em 2004, atribuiu-lhe a menção de Grande Itinerário Cultural Europeu.
José Manuel Fernandes destacou ainda as recomendações do Conselho da Europa – a organização intergovernamental mais antiga com carácter político e que integra 46 países –, apelando à identificação dos caminhos de Santiago sobre o conjunto do território europeu, a um sistema de sinalização apropriada dos principais pontos do itinerário e uma acção coordenada de restauração e valorização do património arquitectónico e natural envolvente.
O Eurodeputado anotou ainda que também a UNESCO reconhece o Caminho de Santiago como «um dos elementos que mais contribuiu para a formação de uma identidade comum entre as várias regiões do Continente Europeu», tendo já classificado como Património da Humanidade o Caminho Francês em Espanha (de Roncesvales a Santiago) e o Caminho de Santiago em França a partir de Le Puy.
Nesse enquadramento, o Eurodeputado sublinhou que “é necessário que o Estado Português tenha também consciência da importância deste património cultural e paisagístico”, apelando amedidas de protecção e recuperação “em ordem à inscrição dos Caminhos Portugueses de Santiago na lista do Património Mundial da UNESCO”.
Peregrinação local
Numa sessão foi animada pela academia local de danças de salão, o eurodeputado José Manuel Fernandes apresentou o levantamento do caminho de Santiago que atravessa o concelho de Vila Verde, entre a ponte de Prado e a extremidade do concelho em Rio Mau, passando pelo futuro albergue de peregrinos que será inaugurado a 9 de Abril e Goães,
A valorização dos Caminhos de Santiago de Vila Verde foi justificada pelo presidente da Câmara Municipal, António Vilela, como uma “aposta integrada num plano de desenvolvimento turístico” assente numa “intervenção estratégica” de promoção das potencialidades de “um concelho forte em tradições e manifestações e vivências sócio-culturais”.
É nesse espírito que se enquadram os Lenços de Namorados, a recuperação e sinalização das vias romanas e o pica-no-chão, entre outros projectos de sucesso que António Vilela destacou por catapultarem o concelho de Vila verde no contexto regional, nacional e também internacional. O presidente da Câmara assinalou mesmo que é uma autêntica “peregrinação permanente” que o concelho está também a fazer de valorização do património e de todas as suas potencialidades, para a qual apelou ao envolvimento activo da população do concelho.
O peregrino e líder da associação Espaços Jacobeus, Amaro Franco, sublinhou igulamente a necessidade das populações preservarem e serem as primeiras interessadas na defesa e na valorização do seu património, destacando o impacto religioso e sócio-económico da devoção jacobeia.