Artigo de Opinião, Opinião Recente

Bons a iludir e péssimos a governar

Afirmo muitas vezes que “Dá muito trabalho evitar problemas”. É uma máxima que implica proatividade, estratégia, planeamento, empenho e criatividade. Porém, aplicar esta máxima com sucesso tem um senão: como se evitam problemas, perde-se  a perceção do esforço de quem evitou os problemas e não se valoriza o trabalho realizado. Talvez por isso, o Primeiro-ministro António Costa não se esforce para evitar problemas. Aliás, não resolver os problemas possibilita ao Governo de António Costa a execução da estratégia  socialista, que consiste, essencialmente, em dar subsídios, ter uma atitude paternalista, tornar todos mais dependentes do Estado. Os incêndios, a seca, o estado da saúde e as medidas de combate à inflação são uma prova do acima referido.

 A tragédia de Pedrogão Grande não serviu de lição. Todos os anos assistimos com angústia aos fogos florestais. Mesmo assim, não temos uma estratégia para a floresta, não a valorizamos e nem sequer temos um cadastro florestal. O governo limita-se a reagir -habilmente- no controlo dos danos. Na Serra da Estrela, classificado de património Mundial pela UNESCO, arderam 26 mil hectares. Mas a Secretaria de Estado da proteção civil não pediu ajuda à UE através do Mecanismo Europeu de Proteção Civil porque considerava que Portugal tinha meios suficientes para combater o fogo. A ministra da Presidência conseguiu afirmar que ardeu muito, mas que a Serra da Estrela vai ficar melhor do que a situação em que estava antes. A secretária de Estado Patrícia Gaspar afirmou que ardeu menos do que o previsto uma vez que segundo um qualquer algoritmo, esperava-se mais área ardida. Estas afirmações demonstram insensibilidade e revelam uma atitude negligente. Só a posição de inimputabilidade que os socialistas conquistaram as permite. Os factos demonstram que Portugal tem a maior percentagem de área ardida na UE.

 O fecho das centrais termoelétricas de Sines e do Pego levou a que Portugal deixasse de produzir eletricidade a partir do carvão. Mas passamos a comprá-la – mais cara – a outros Estados-membros, que mantêm as centrais de produção de eletricidade com o carvão.

Não admira que se tenha procurado produzir o máximo de energia a partir das barragens. Agora, temos riscos no abastecimento público de água, a biodiversidade em perigo e a seca a afetar negativamente a agricultura. Não há uma estratégia nacional para uma boa gestão da água. Enquanto temos falhas graves no abastecimento público de água, o PRR apenas prevê a construção de uma pequena central de dessalinização no Algarve. O Governo anda “a reboque” das alterações climáticas, em vez de as prevenir. Deveríamos ter previstas centrais de dessalinização devidamente localizadas. Temos de procurar interligar os sistemas de abastecimento de água e, obviamente, procurar a máxima eficiência combatendo as perdas. Quando faltar água nas torneiras, a estratégia governamental será, mais uma vez, a de culpar os municípios. Aliás, o Governo já pediu aos municípios para aumentarem os preços da água. A seca que enfrentamos também exige investimentos e uma gestão eficiente da água para a rega dos nossos espaços agrícolas. A agricultura é essencial para a competitividade de Portugal e a coesão do território. Não falta dinheiro dos fundos europeus, mas falta competência.

 O nosso Sistema Nacional de Saúde está deveras doente. Sofre uma degradação inaceitável, que prejudica sobretudo os mais pobres. É uma das consequências da ideologia socialista, que -por exemplo  “matou” as parcerias público-privadas que estavam a prestar um serviço de qualidade. A demissão de Marta Temido é a prova da falência da atuação do Governo nesta área. E António Costa, apesar de ter aceitado a demissão da ministra, ao mesmo tempo afirmou que Marta Temido continuará até que conclua o diploma que regula a nova direção executiva do SNS. A saúde é uma área crucial, que precisa rapidamente de competência da parte do ministério e cujo futuro ministro não seja obrigado a prosseguir com a política desastrosa que está em curso.

 O Primeiro-ministro sabia que a inflação não era passageira. Mas adiou a apresentação de medidas que a combatessem e ajudassem as famílias e empresas. Este adiamento permitiu que o Governo enchesse os cofres de impostos com as dificuldades dos portugueses. Quanto maior é a inflação, mais receita se arrecada, nomeadamente do IVA. Para além disso, quanto mais tempo demorasse a aplicar as medidas de apoio, menos despesa teria este ano com as mesmas.

Aparentemente o governo vai dar mais aos pensionistas. Mas não dá nem mais um cêntimo. A meia pensão extra que vai “dar” agora é deduzida nos aumentos que os pensionistas tinham direito, por força da lei, no próximo ano. Na verdade, há apenas um adiantamento. A mesma ilusão acontece com a redução do IVA na fatura da eletricidade para 6%. A verdade é que esta redução só ocorre para a taxa intermédia de 13%, ou seja, o “primeiro” consumo até aos  100 kWh. A taxa de IVA do grosso da fatura de eletricidade dos portugueses continuará a ter o IVA a 23%.

 O Governo de António Costa é bom a iludir mas péssimo a governar. Estamos a empobrecer alegremente quando nos comparamos com os outros Estados-membros. Os enormes recursos financeiros que Portugal tem disponíveis através dos fundos europeus ajudam a disfarçar a incompetência do governo e permitem a distribuição de subsídios que nem sempre geram uma mais valia. Mas o que verdadeiramente precisamos é de ter ambição, criar riqueza, tirar partido das nossas potencialidades e deixarmos de ter, na Europa, a postura de pobres “pedintes”.

Gosto

+ As festas populares e tradicionais estiveram finalmente de volta às nossas terras. As cidades e as vilas, do litoral ao interior e de norte a sul do país, encheram-se de tradições, de cultura, de música, de gastronomia e de saberes e sabores populares. Trouxeram animação e alegria, mas também geraram maior riqueza e atividade económica.  

 + O programa de vacinação arranca esta semana em Portugal, com vacinas adaptadas à variante Ómicron. O país é o primeiro da Europa a receber as novas doses das farmacêuticas Pfizer e Moderna, que começaram a ser administradas esta semana. A meio da semana chegaram 500 mil e até sexta-feira chegarão mais 100 mil.

Não-Gosto

– A seca chegou mesmo à nossa porta, às nossas torneiras. O abastecimento de água  à população de vários concelhos teve de ser feito através do transporte de água em camiões. Temos de investir na eficiência dos sistemas de abastecimento público de água para reduzir as enormes perdas. Para além disso, há que pensar na interligação dos sistemas e no investimento em centrais de dessalinização. Para a agricultura há que criar “reservatórios” de água e gerir eficientemente regadios. Não falta fundos europeus há que utilizá-los não gestão da água.

 – Portugal prepara-se para entrar na maior crise inflacionista das últimas décadas. Os tempos são extraordinários e pedem medidas urgentes e extraordinárias, mas mais uma vez o nosso governo chegou tarde… só esta semana é que apresentou um conjunto de medidas. Este pacote de medidas vem tarde, muito tarde. O governo reagiu tardiamente a pensar na arrecadação de impostos. Além disso, o aumento das pensões – que foi a grande novidade apresentada pelo governo – não passa de uma ilusão. Na verdade, os portugueses vão ganhar zero face àquilo que a lei previa.