Artigo de Opinião, Opinião Recente

As eleições e a importância do Brasil

Enquanto Presidente da Delegação do Parlamento Europeu para as Relações com a República Federativa do Brasil, tenho acompanhado com especial atenção os desenvolvimentos eleitorais no Brasil. Costumo dizer e insistir que, na Europa e em Portugal, ainda não nos apercebemos da dimensão e importância do Brasil. A título exemplificativo, vale a pena referir como o Brasil tem praticamente duas vezes a área da UE, sendo o quinto maior país e a décima maior economia do mundo. Ou que, servindo-nos do exemplo destas eleições, que só na cidade de São Paulo, houve mais cidadãos a exercer o direito de voto do que no nosso país, nas últimas legislativas. Assim, torna-se evidente a importância e dimensão das eleições brasileiras.

 Decorrida a primeira volta das eleições e iniciado o percurso até à segunda volta, no dia 30 de outubro, é agora oportuno apresentar algumas reflexões, expectativas e lições.

 Antes de mais, é de mencionar e valorizar o facto de a ida às urnas ter decorrido de forma ordeira e tranquila, sem suspeitas de fraude. Este dado não é propriamente uma novidade, visto que o sistema eletrónico de voto do Brasil, instalado há mais de 25 anos, tem dado provas da sua fiabilidade. As instituições do Brasil mostraram este fim-de-semana – mais uma vez – serem fortes e independentes, o que é de louvar. É por isso desejável e expectável que o ramo judiciário – e o Tribunal Superior Eleitoral em particular – continue a desempenhar o seu papel com absoluta imparcialidade e sem interferência de terceiros.

Espera-se assim que, no próximo dia 30 de outubro, os diversos intervenientes políticos e sociais reiterem a sua confiança no sistema de voto brasileiro, assim como nos resultados. O respeito pelos resultados democráticos exige-se não só aos brasileiros, que participam diretamente nestas eleições, mas também a toda a comunidade internacional, que tem assumido posições nesta contenda eleitoral. O respeito pela democracia e soberania popular é medido sobretudo nos momentos em que vencem candidatos com os quais não simpatizamos. Espero que, no próximo dia 30, todos demonstrem esse respeito pela democracia.

À imagem do que tem sucedido nas eleições um pouco por toda a Europa, a abstenção cresceu, mesmo que marginalmente: atingiu 20,9%, a maior percentagem desde 1998. Em 2018, a abstenção tinha ficado pelos 20,3%. Estes valores são relativamente baixos, sobretudo quando comparados com os números do nosso país. No entanto, recorde-se como o Brasil tem um sistema de voto obrigatório, com uma penalização de valor muito reduzido para quem não exercer o seu direito de voto. O crescimento da abstenção eleitoral é um fenómeno transversal às democracias liberais contemporâneas, o que requer uma reflexão produtiva sobre as suas causas, até agora dificilmente identificadas. Outro fenómeno típico do “ar dos tempos” que atravessamos é o crescimento da polarização. Também esse ar foi respirado no domingo, à semelhança do que havia acontecido durante as últimas semanas da campanha política. Dois candidatos, de campos ideológicos muito distantes, reuniram entre si mais de 90% dos votos, numa eleição com onze candidatos. Tratou-se de um caso claro de bi-polarização.

Igualmente à imagem do que tem acontecido em muitas eleições um pouco por todo o mundo, as empresas de sondagens foram umas das principais derrotadas da noite de eleições. Ao contrário do que previam, Jair Bolsonaro teve uma votação bastante superior aos 36%, 37% que lhe eram atribuídos, tendo chegado aos 43%. Este é mais um fenómeno recente e transversal às democracias, que carece de explicação e compreensão. Sobretudo numa sociedade como a brasileira, que se orgulha da habitual precisão e fiabilidade das suas sondagens.

As próximas semanas serão de intenso confronto político. É natural que assim seja na véspera de uma segunda volta que opõe dois sós candidatos. No entanto, como têm apontado os próprios candidatos presidenciais que perderam na primeira volta, o Brasil enfrenta um ambiente político especialmente crispado e polarizado. Os meus votos são para que, após estas últimas semanas de campanha, seja qual for o vencedor, o Brasil recupere um sentido de nação e união, assim como uma maior aproximação à União Europeia. Deste lado do Atlântico, cabe-nos colocar a América Latina, e o Brasil em particular, no topo das nossas prioridades internacionais. Temos perdido muito tempo nos últimos anos e deixado escapar oportunidades de aproximação, que são aproveitadas por concorrentes internacionais que, maioria das vezes, não partilham os mesmos valores que a Europa e o Brasil. Dia 1 de janeiro de 2023, quando o Presidente da República Federativa do Brasil tomar posse, a União Europeia, e o Parlamento Europeu em particular, devem encetar todos os esforços por uma maior aproximação. Conto com a mesma dedicação do lado brasileiro. Por isso, espero que se reforce a parceria estratégica com o Brasil e se aprove o acordo Mercosul. Até lá, espero que as eleições decorram com a maior naturalidade e respeito pelas regras do jogo, honrando a cultura democrática brasileira.

Gosto

+Portugal foi considerado o “Melhor Destino Turístico da Europa”, na edição europeia dos World Travel Awards 2022, o que acontece pela quinta vez nos últimos seis anos. De parabéns estão todos os operadores turísticos que, apesar das dificuldades, encontram forma de valorizar o que de melhor o nosso país tem. Sabemos receber bem! A eleição resulta da votação de milhares de profissionais do setor, oriundos de todos os países do mundo. Neste ano, Portugal arrecadou mais 30 prémios, entre destino, regiões, produtos e serviços. O Turismo é uma atividade económica fundamental para a geração de riqueza e emprego em Portugal. Nos últimos 9 anos, o país registou uma taxa de crescimento médio anual de 7,2% nas dormidas, o que se traduz num aumento de 37 milhões de dormidas em 2010 para 70 milhões.

+ A Fundação Calouste Gulbenkian vai atribuir 500 bolsas de estudo a jovens que tenham entrado este ano no ensino superior, com uma média elevada e sejam, simultaneamente, provenientes de famílias com menores rendimentos. A Fundação Calouste Gulbenkian coloca o limiar dos apoios num patamar mais generoso do que o Ministério da Ciência e Ensino Superior. Com as recentes alterações ao regulamento de bolsas de estudo, que vão permitir alargar para mais cerca de 3 mil a 4 mil alunos o apoio do Estado, a bolsa fica acessível a estudantes vindos de famílias com rendimentos até cerca de 9 mil euros anuais per capita. No caso das bolsas da Gulbenkian, o rendimento familiar anual pode ir até aos 12 mil euros por pessoa. Ou seja, mais cerca de 200 euros por mês. Este apoio, no valor de 2 mil euros anuais, será reforçado com mais 2 mil euros quando os alunos vão estudar para fora do país, ao abrigo do programa Erasmus.

Não-Gosto

– O cabaz de alimentos essenciais está mais caro. De 185 euros passou para 206 euros. Uma análise da DECO Proteste, divulgada esta segunda-feira, revela que entre março e agosto o preço de um cabaz de bens alimentares essenciais passou de 185 euros para 206 euros. Como vão sobreviver as nossas famílias, com os “falsos” apoios do Governo? Em termos globais, são mais 21 euros, ou seja, 11%. As famílias começaram a sentir que, para o mesmo orçamento, não conseguem encher o carrinho de supermercado com a mesma quantidade de géneros alimentícios. E a este aumento há a registar todos os outros: como as despesas com a habitação, com a luz, o gás e os combustíveis! Estamos numa escala de perda de compra e muitas famílias estão já em situações complicadas. Urgem medidas efectivas e reais.

 – Do crescimento da extrema direita na Europa. Todos os ditadores são maus, quer sejam de direita ou de esquerda. Nunca alinhei na simpatia, na desculpa dos excessos da extrema esquerda. No Parlamento Europeu, verifico que em mais de 90% das votações, a extrema direita e a extrema esquerda votam no mesmo sentido. Tenho dificuldade em explicar e encontrar as razões do crescimento dos extremos, quer sejam de direita ou de esquerda. Ambos querem destruir a União Europeia. A construção da UE teve como primeiro objetivo a Paz. O sucesso é de tal forma que damos a Paz como absolutamente adquirida no espaço dos 27 Estados-membros. Vivemos em democracia, liberdade, defendemos o Estado de direito e a defesa da dignidade humana.