Os valores da liberdade, democracia, Estado de direito, defesa dos direitos humanos, defesa da vida e da dignidade humana devem ser a base da construção do desenvolvimento económico. Os acordos comerciais que a União Europeia faz têm de privilegiar os países que respeitam e defendem estes valores.
Defendo uma UE aberta que reforce e defenda permanentemente estes valores e que actue sem ingenuidade, exigindo reciprocidade. As democracias têm de se unir: só assim sairão mutuamente reforçadas e poderão, de forma conjunta, vencer os ataques que as ditaduras planeiam e concretizam.
A UE tinha obrigação de ter uma estratégia para África e para a América Latina utilizando, no relacionamento, uma palavra chave: cooperação. Ninguém pode ter pretensões paternalistas ou de imposição. Portugal tem especiais obrigações com África, nomeadamente os países africanos de língua oficial portuguesa, e com o Brasil.
A UE e Portugal não têm feito o que lhes competia. O “espaço” que não preenchem é – estrategicamente – ocupado pela China. Ganha a China, perde a UE, perde a democracia e o desenvolvimento. Na presidência da UE que assumiu no primeiro semestre de 2021, Portugal deveria ter assumido como prioridade política África e o Brasil. Na Europa e em Portugal, nem sempre temos consciência da força e importância do Brasil. É o quinto maior país do mundo, tem o dobro da área da UE, cerca de metade da população da UE e é a 12.ª economia do planeta.
O Presidente Lula da Silva abriu, novamente, o Brasil. Temos de aproveitar esta oportunidade e garantir o reforço de uma parceria em que todos vençam. O Brasil é, desde 2007, um dos dez parceiros estratégicos da UE. Entre 2007 e 2014 organizaram-se sete cimeiras UE-Brasil. Depois de 2014 não tivemos mais nenhuma. É tempo de revitalizar as relações UE-Brasil e de dar um novo impulso à parceria estratégica.Em Portugal, o Presidente Lula da Silva, ao deplorar a invasão da Ucrânia pela Rússia, corrigiu as declarações infelizes que tinha feito na China. Afirmou-se um defensor do acordo Mercosul, que demorou 20 anos a ser negociado e está parado desde 2019. Espero que na cimeira UE-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que decorrerá em 17 e 18 de Julho, em Bruxelas, se avance – definitivamente – para a aprovação do acordo.
Há Estados-membros que, por razões proteccionistas, estão renitentes. As reduzidas importações na área da agricultura e pecuária estão a amedrontar alguns governantes europeus a que gostaria de chamar líderes. Com o acordo Mercosul, teríamos um mercado de mais de 750 milhões de pessoas, que corresponderia a 25% do PIB mundial. Haveria força geopolítica que ajudaria à paz, ao fortalecimento dos valores democráticos e ao desenvolvimento sustentável.