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2022: Ano difícil e desafiante

Neste artigo, realço alguns factos de 2022 que considero relevantes.

1- Em 24 de Fevereiro a Rússia iniciou uma guerra invadindo – sem justificação – a Ucrânia. Temeu-se uma anexação” rápida, quase imediata, tal era a desproporção de forças em termos militares. Valeu a impressionante coragem e resistência de Volodymyr Zelensky e do povo ucraniano. O Presidente Zelensky afirmou-se como um líder que usa a comunicação como uma arma que domina com mestria. A UE reagiu com determinação e união porque o povo europeu depressa se manifestou nas principais capitais europeias. A guerra evidenciou as fragilidades da UE e a falta de autonomia em várias áreas, nomeadamente na segurança e abastecimento energético. Recorde-se que para o Presidente Zelensky comunicar com o mundo, teve de ser um privado, Elon Musk, a providenciar conectividade com os seus satélites.

Não sabemos como terminará a guerra, mas teremos como consequência novos equilíbrios e um mundo diferente. Espero, pois é para nós crucial, que vença a democracia, a liberdade, a defesa da vida e da dignidade humana. Não tenho a esperança de que os governantes da UE tirem as devidas ilações da guerra. Eles continuarão a reagir – com base no medo – em vez de agir – com base na convicção. Raramente vão antecipar e continuarão a olhar – apenas – para o imediato e o seu umbigo”.

2- A vitória de Emmanuel Macron foi sofrida, mas muito importante para a UE. Impressiona a possibilidade de Marine Le Pen, da extrema-direita financiada por Putin, poder ganhar as eleições presidenciais em França. As consequências seriam devastadoras. Macron venceu os extremos que crescem e muitas vezes se fortalecem mutuamente! Por que é que muitos cidadãos europeus votam em partidos que querem acabar com a União Europeia, quando a UE tem sido sinónimo e garante da paz, da democracia, do desenvolvimento e da solidariedade? Como se explica? Demasiadas vezes só valorizamos as nossas conquistas depois de as perdermos.

3- Do outro lado do nosso continente, a vitória de Lula nas presidenciais trouxe esperança. Precisamos de um Brasil unido e aberto ao mundo. Na UE, continuamos sem compreender a dimensão e a importância do Brasil. Não nos lembramos, por exemplo, que cerca de metade do território da América Latina é território brasileiro, ou que um em cada dois cidadãos da América Latina é brasileiro, ou ainda como o Brasil é a 10ª economia do mundo e tem praticamente o dobro da área da UE. Temos de reforçar a cooperação com o Brasil e retirar o acordo Mercosul da gaveta.

4- O ano que agora finda representa também o fim da pandemia. Tal não significa o fim do Covid-19.  Há lições a retirar.  Foram dois anos difíceis, quando fomos apanhados” pela COVID não estávamos minimamente preparados. A União Europeia ganhou a batalha porque atuou de forma unida e solidária. Financiou fortemente a investigação que permitiu a produção de uma vacina em apenas 10 meses. Foi a Comissão Europeia quem comprou as vacinas e as disponibilizou aos Estados-Membros. Se a compra tivesse sido feita individualmente por cada Estado-Membro, o preço das vacinas teria disparado e os países mais pobres ainda estariam a administrar a 1ª dose. Para vencermos os desafios que temos pela frente, temos de estar unidos, atuar de forma solidária e coordenada. É mais justo, eficiente e mais barato.

5- A nível nacional é de destacar que António Costa ganhou as eleições com maioria absoluta. Nem o mais otimista dos socialistas considerava que tal fosse possível. O Bloco de Esquerda e,  sobretudo, o PCP acabaram por ser os mais penalizados.

Luís Montenegro venceu as eleições no PSD e logo deu sinais de união, tendo construído uma excelente equipa. Tem assumido uma oposição forte, construtiva, pró-ativa e vigilante. Luís Montenegro está muitíssimo bem preparado. Será o próximo Primeiro-Ministro de Portugal.

A governação de António Costa está a ser marcada pela gestão de crises e escândalos. É um governo de fim de ciclo. Já são nove os membros do governo que foram demitidos ou que se demitiram.  O nosso Sistema Nacional de Saúde está deveras doente. Marta Temido demitiu-se e tivemos uma nova equipa a liderar o Ministério da Saúde, mas não basta mudar de elenco. O SNS sofre uma degradação inaceitável, que prejudica sobretudo os mais pobres. É uma das consequências da ideologia socialista, que matou” as parcerias público-privadas, que estavam a prestar um serviço de qualidade aos portugueses de norte a sul do país.

Nestes 365 dias, nada mudou no paradigma socialista. Não se preveniu, apenas se reagiu. Foi assim com os fenómenos resultantes das alterações climáticas, sentidos em todo o globo. 99% do território português esteve em seca grave. Uma das nossas preocupações tem de ser os agricultores e o mundo rural. Os efeitos negativos são também visíveis na biodiversidade e colocaram em causa o abastecimento público de água. Portugal teve a maior percentagem de área ardida na Europa! No final do ano, o cenário inverteu-se com chuvas torrenciais e inundações um pouco por todo o país. Na capital, o caos instalou-se! Até quando a desculpa vai ser as condições meteorológicas? Para quando uma verdadeira intervenção estratégica? Há que prevenir. Temos de agir! A cada ano, o cenário repete-se!

6- 2022 foi o primeiro ano do PRR e deveria ter sido – pelo menos – o primeiro ano do Portugal 2030. O atual” PRR é de 18.2 mil milhões de euros e não de 16.6 mil milhões, como tem sido referido. Este aumento de 1.6 mil milhões – nas subvenções – deve-se a más razões: respondemos pior à pandemia do que os outros Estados-membros. Em vez  de 13.9 mil milhões, passamos a ter 15.5 mil milhões de euros em subsídios. Na vertente dos empréstimos, Portugal só quis 2.7 mil milhões de um montante disponível de 14.2 mil milhões de euros. Não percebo como ninguém pergunta onde vão ser investidos os adicionais 1.6 mil milhões de euros que acabam por alterar o PRR inicialmente aprovado. E por que razão o Governo só quis 2.7 mil milhões em empréstimos? O calendário aperta: o Portugal 2020 tem de ser executado até 2023 e ainda tem mais de 5 mil milhões de euros por utilizar; o PRR tem de ser executado até 2026 e o Portugal 2030 até 2029. Note-se que, lamentavelmente, o Portugal 2030 não teve um único cêntimo executado em 2022!

7- Tenho insistido que temos uma tempestade de milhões prestes a transformar-se num Tsunami. O governo tem a obrigação de gastar bem, apoiando as famílias e as empresas, sobretudo quando temos aumentos das taxas de juro e um aumento da inflação. Com tantos milhões, um governo minimamente competente facilmente consegue que Portugal cresça de forma coesa e sustentável, possibilitando melhores salários e qualidade de vida a todos os portugueses.

Os portugueses são capazes! Temos a gastronomia, o clima, o mar, as nossas raízes e tradições, o nosso património, como benção e mais valia. Temos de conseguir triunfar, nunca desistir. Para isso, temos de ser exigentes connosco e com quem nos governa.

Votos de um excelente 2023.